sexta-feira, 25 de março de 2011

Pistas Pastorais Para o Novo Milênio - Pe. Jorge Boran

PRIMEIRA PISTA PASTORAL: DAR PRIORIDADE À EXPERIÊNCIA SOBRE A TEORIA  
Neste, e nos próximos artigos, aprofundamos algumas pistas pastorais para enfrentar um novo contexto cultural. São pistas que indicam como devemos adaptar nosso discurso e metodologia aos novos tempos, mas sem perder os elementos de nosso projeto de pastoral da juventude, para que continuem válidos.

Neste artigo falamos sobre a importância de dar prioridade à experiência sobre a teoria. No passado, um modelo dedutivo tradicional de pastoral da Igreja dava prioridade ao ensinamento da doutrina como o método principal de educação religiosa. Uma preocupação central foi o ensinamento de doutrina ortodoxa para combater a heresia. Mas os tempos mudaram. Hoje o desafio não é a heresia, mas a indiferença. Líderes e educadores religiosos da juventude rejeitam discursos abstratos baseados em projetos idealistas e preferem fazer propostas que respeitam a primazia da experiência. Prioridade é dada a situações que ajudam os jovens a se sentirem acolhidos e aceitos por si mesmos. Em pequenos grupos, procuram-se soluções para os problemas concretos da vida diária.
Há um princípio pedagógico importante aqui. Podemos apresentar a mensagem de Jesus aos jovens somente na medida em que conseguimos atraí-los e conquistar sua confiança. Por este motivo é importante começar com suas necessidades e aspirações. Se não começamos com seus interesses, não conseguimos mantê-los interessados.
O conhecimento intelectual é importante, más não deve ser, normalmente, o ponto de partida. Os adolescentes, que estão iniciando seu itinerário de fé, querem experimentar logo as propostas apresentadas. Querem experimentar com as coisas, mais de que ler documentos e escutar conferências. A televisão e a mídia, em geral, já encurtaram sua capacidade de prestar atenção. Dentro do contexto da cultura pós-moderna, podemos motivar os jovens somente na medida em que começamos com as coisas que lhes interessam: suas necessidades e aspirações, seus problemas pessoais e os desafios que enfrentam na vida diária. Os jovens necessitam aprender que Deus não está "aí em cima, nos céus"; mas, sim, que Ele se revela nos acontecimentos na sua vida diária. Este é o significado da Encarnação. "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós." (Jo 1,14)
Essencialmente estamos falando aqui do método "Ver, Julgar, Agir" que já formou gerações de cristãos comprometidos. Contudo, hoje em dia, há uma tendência de usar diferente terminologia e experimentar uma variedade de métodos que seguem a mesma lógica: "Realidade-Iluminação-Ação". Um novo contexto cultural requer uma flexibilidade que evita a preocupação demasiadamente rígida com as diferentes etapas e subetapas do "Ver, Julgar, Agir", como tem sido entendido tradicionalmente.
Dar prioridade à experiência pode significar a criação de situações de aprendizagem em reuniões e cursos onde os jovens aprendem fazendo. Há uma ênfases especial hoje em dia na utilização de técnicas e dinâmicas (por exemplo, teatrinhos) para envolver os jovens e ajudá-los a refletir sobre diferentes situações na sua vida. O seguinte exemplo do II Congresso Latino Americano de Jovens, em 1998, ilustra a importância desta pedagogia.
Mais de 800 delegados de 22 países latino-americanos participaram, além de convidados da Europa e América do Norte. O Congresso teve uma tarefa importante: determinar a direção para a Pastoral da Juventude do continente para o novo milênio. A coordenação do Congresso me convidou para treinar mais de sessenta jovens que seriam responsáveis pela coordenação de 56 grupos durante o evento. Eu tinha participado, anteriormente, de outros eventos semelhantes e tinha clareza da lista de "pecados" que os coordenadores de grupos provavelmente cometeriam: falar demais, ignorar os mais tímidos, não controlar o tempo disponível para incluir todas as questões a serem estudadas, deixar o debate "no ar" sem conclusões concretas e não verificar se os secretários dos grupos estavam anotando, com fidelidade, as principais idéias discutidas.
Levar os coordenadores a assimilar o conhecimento teórico e habilidades necessários, foi o grande desafio a ser enfrentado. Eu podia fazer uma conferência e todo mundo ia concordar com o conteúdo apresentado e, não obstante, logo voltar aos velhos hábitos no momento em que precisavam coordenar seus grupos. Resolvi, então, tomar outro caminho. Decidi criar uma situação de aprendizagem em que os líderes aprenderiam fazendo. Formação na ação. Usei a técnica de grupo de verbalização (grupo no centro) e grupo de observação.
O grupo de verbalização fazia uma reunião e os demais membros observavam. Dois jovens foram "infiltrados" no grupo no centro (grupo de verbalização). Um foi instruído, em segredo, para se oferecer como voluntário para a posição de secretário, intervir constantemente na reunião, raramente anotar as coisas e somente registrar suas próprias idéias. A outra pessoa foi instruída para tentar constantemente desviar o assunto e, assim, dificultar o aprofundamento do tema sendo estudado. O grupo no centro também não sabia que os observadores haviam recebido instruções. As instruções ressaltavam os pontos importantes que devem ser observados para avaliar o comportamento do coordenador e dos membros. O resultado foi uma experiência inesquecível. Considerando que o conteúdo de uma palestra seria esquecido logo depois, este método de aprendizagem deixou uma impressão que foi um fator importante para o sucesso do Congresso.
A prioridade dada à experiência não deve ser entendida como uma desvalorização da importância da formação teórica. Os jovens devem ter noções claras sobre os dados básicos da sua fé: a Bíblia, Jesus Cristo, a Igreja, os Sacramentos, um código moral pessoal e uma base nas diferentes ciências como, psicologia, sociologia e ciências políticas para entender melhor os compromissos de fé no mundo moderno. A ignorância religiosa no meio da juventude hoje causa preocupação. Porém, os líderes na Igreja devem resistir à tentação de querer voltar às propostas tradicionais - que funcionavam no passado, porém, não têm mais capacidade de motivar uma nova geração. Alguns líderes na Igreja ainda acreditam que colocando os jovens sentados em fileiras bem ordenadas e fazendo palestras para eles resolverá o problema da sua ignorância religiosa. Há uma dificuldade com esta solução: não conseguimos mais motivá-los a sentar e escutar aula de religião. As condições culturais que rodeiam os jovens e condicionam sua maneira de pensar e se comportar já mudaram. A cabeça do jovem hoje é diferente.
Na medida em que os jovens estão cada vez mais motivados, os coordenadores e assessores podem facilitar uma formação mais sistemática. A formação intelectual é importante para ajudar os jovens a enxergar o quadro maior e tirá-los do imediatismo da experiência concreta.
Entusiasmo e motivação também crescem quando os jovens sentem que fazem parte de um processo onde estão crescendo. Há necessidade, portanto, de um contínuo "vai-e-vem" entre a teoria e a práxis (experiência refletida). A reflexão sobre a experiência cria a necessidade para a teoria que clarifica o quadro maior. Contudo, precisamos evitar a impressão de que a formação teórica é feita a esmo neste modelo. Uma pastoral com planejamento anual incluirá os cursos, palestras e leituras que são necessários para que os jovens possam adquirir uma formação sistemática.
Perguntas para trabalho em grupos
1. Quais são as idéias importantes neste texto e como iluminam nosso trabalho pastoral com jovens? 2. Que mudanças precisamos fazer para motivar mais jovens e levá-los à conversão e ao compromisso?
Pe. Jorge Boran

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