sexta-feira, 25 de março de 2011

Grupo de jovens? Não mesmo!



Uma pastoral da juventude realizada e conduzida pelos próprios jovens, através de grupos, é o ideal para a ação da Igreja. Mas o jovem urbano, de classe média-alta, caracteristicamente individualista, consumista, encontra dificuldades para aceitar este tipo de trabalho pastoral. Por que isto? Como se caracteriza o jovem urbano, de classe média-alta?
Os jovens que nasceram e se criaram nos centros das cidades ou nos bairros de gente abastada, possuem uma série de características próprias, que procuraremos descrever neste artigo. 

Aspirações e lazer
 
Eles anseiam profundamente por um lugar ao sol. Assumem os valores que a sociedade de consumo lhes impõe. Muito visados por esta sociedade, são as primeiras vítimas do consumismo devorador. Rejeitam essa imposição, mas não conseguem superá-la e acabam usufruindo os privilégios. Alimentam o desejo de possuir, de fazer viagens, de realizar festas sofisticadas. Os clubes sociais são o espaço onde a dimensão do lazer é vivida através de esportes, festas, danças, competições, concursos de beleza para moças etc. O cultivo do corpo é quase uma idolatria (corpolatria), onde o narcisimo atinge graus elevados. É o reflexo do egoísmo reinante e de uma sociedade que prioriza a matéria acima dos valores espirituais e culturais. Os esportes preferidos são: natação, tênis, basquete, surf, squash e as artes marciais, como karatê, que treina para a briga e a autodefesa corporal.

Muito poder e pouca política 

O referencial político atual não lhes oferece perspectiva. Os partidos políticos estão desacreditados. Não desconfiam que há outros campos políticos, como o sindicato, os movimentos populares... Diante de tal quadro, esses jovens se caracterizam pela aversão e apatia. Contudo, procuram manter ciosamente o poder político, econômico e cultural que desfrutam através de sua família e de sua classe social. Alguns são reacionários por herança e por formação. Neste contexto, a escola é um instrumento que lhes garante, através do saber, seu status econômico. Há quem diga que a apatia política desses jovens é uma postura intencional, como forma de reação ao modelo de sociedade que está aí, posta pelos adultos. A possibilidade de votar aos 16 anos mudará a perspectiva política dos jovens desta classe?

Muito dinheiro e pouco afeto

Desde o berço, recebem tudo de mão beijada, sem precisarem de algum esforço para conseguir algo. Podem esbanjar à vontade. Contudo, têm uma insatisfação existencial que não sabem definir. Consciente ou inconscientemente, sentem que não são sujeitos nem de sua própria história. Dão-se conta do vazio de seriedade dos encontros que deveriam trazer profundidade no relacionamento, como o namoro, a família, o estudo.

Onde está o seu Deus?

A grande mistura de credos (seitas) com que se deparam esses jovens, em sua maioria nascidos no costado da Igreja Católica, causa-lhes grande insegurança. Muitos têm vergonha de expressar sua fé, mesmo porque ouvem muitos chavões contra a Igreja que não sabem esclarecer ou negar. Apreciam o modelo de Igreja no Brasil ligado à Teologia da Libertação, mas sentem dificuldades de comprometer-se com essa Igreja. Quando conseguem fazer uma experiência religiosa positiva, empolgam-se e sentem-se desafiados pelos valores da fé. As moças mostram-se mais prontas e sensíveis aos problemas sócio-religiosos do que os rapazes. Mas, na hora de assumir e tomar uma bandeira de luta, elas se retraem facilmente. Parece que tal comportamento esteja ligado à diferença de formação dada nas famílias: o rapaz é mais solto e as moças mais vigiadas. No fundo, todo esse modo de ser dos jovens de classe média-alta reflete um modelo de sociedade esvaziada de valores éticos, religiosos e culturais. Entretanto, seria errôneo e até injusto pensar que esses jovens não têm sensibilidade. Pelo contrário, toca-os de perto a amizade, a ecologia, os direitos humanos, a solidariedade e os testemunhos de coerência.

Tentar caminhos está em nossas mãos

- Criar espaços para grupos de vivência que ajudem os jovens a descobrir o sentido da vida, para não passarem seu tempo como seres inúteis e mergulhados numa sociedade que os manipula. Motivá-los a perceberem que são capazes de mudar esta sociedade.
- Encaminhar alternativas de ação concreta (direitos humanos, ecologia, movimentos estudantis, populares, sindical), para que possam ter escolhas pessoais e grupais e se sintam sujeitos da história.
- Criar clima e espaço para que as dinâmicas já em andamento, como Movimento de Jovens e Pastoral da Juventude, possam ser melhor experimentadas e avaliadas e assim descobrir qual das duas consegue a encarnação da Igreja na cidade. Estes e outros caminhos viáveis ajudarão a trabalhar mais concretamente o dado da fé e o sentido cristão da comunidade. Podem ser uma contribuição das jovens gerações para re-criar a Igreja.

QUESTÕES PARA DEBATE

1 - O que mais lhe chamou a atenção nesse escrito? Por quê?
2 - Você acha que o “relato dos jovens urbanos” deve ser retocado? Em quê?
3 - Uma pista muito simples para começar grupos ecológicos:
- O que se faz com o lixo das nossas cidades? As nascentes dos rios estão sendo preservadas ou poluídas? (verificar) como são respeitadas ou recuperadas as áreas verdes?
- Por que será que o assassinato de Chico Mendes provocou mais reações fora do que dentro do Brasil?
Maria Augusta Ghisleni.
Artigo publicado no mês de Maio de 1989, página 18.

Nenhum comentário:

Postar um comentário