sexta-feira, 25 de março de 2011

Celebrando a Páscoa do Senhor - Eliomar Ribeiro

Eliomar Ribeiro

N


oite fria, ameaçando chuva. Na igrejinha da comunidade as pessoas, em número de 100 mais ou menos, chegaram cedo para a reza do terço e para aguardar o momento de “romper Aleluia”. Depois do terço ensaiamos os cantos da celebração.

Às 23 horas, em virtude da chuva fina que começava a cair, iniciamos a celebração que deveria começar um pouco mais tarde. A uns 300 metros da igreja estava pronta a fogueira, de lenha de eucalipto, bem seca. Os “mais velhos”, avôs e avós, receberam a missão de acender a fogueira. Estando já bem acesa, pedimos a benção de Deus sobre o fogo e nele acendemos o Círio Pascal.
Em meio ao canto do “eis a luz de Cristo”, o Círio foi sendo passado pelas mãos dos “mais velhos”; uma avó acendeu as velas das crianças – netas e netos. Nossa fé é herança dos antepassados! Os “pequenos” foram distribuindo a luz para os pais, tios, parentes e amigos. Somos responsáveis em levar adiante a luz da fé que recebemos!
O Círio Pascal foi entregue a um menino de uns sete anos que se encarregou de conduzi-lo até o interior da igreja. Cantando que “a morte já não mata, não mata mais a morte; do chão regado em sangue, a flor brota mais forte” acompanhamos em procissão a Luz Nova.
Na igreja, à luz das velas, entoamos o “Exulte de Alegria!”, na belíssima poesia e melodia de Reginaldo Veloso, aclamando juntos o Cristo Ressuscitado, vencedor da morte e de todo pecado.
Em seguida, vislumbrei o mistério e a beleza da Páscoa na experiência desta comunidade. Desde quinta-feira foi preparado no chão, na frente do altar, um tapete de flores, vermelhas e roxas em sua maioria, onde foi deitado um crucifixo que foi beijado na celebração da sexta-feira da Paixão. Chegou o momento do crucifixo ser levantado, momento de “romper Aleluia”, o Cristo está vivo! Acompanhando o gesto de um jovem da comunidade que o ergue, as luzes foram todas acesas, ouvia-se o repicar do sino e dele sair um som como de alguém cantando de alegria, foguetes estourando estridentemente e o povo a cantar, sob o ritmo do violão e das palmas, “glória, glória, Aleluia”. Senti neste instante, como nunca, a alegria que o Ressuscitado traz em si mesmo. Agradeci ao Pai por me permitir experimentar tamanho mistério.
Todos contentes, ouvimos as leituras que a liturgia nos propõe, recordando a História da Salvação. Entre as leituras entoamos Salmos de louvor e agradecimento. Ao Evangelho aclamamos com o “Aleluia! rendei graças ao Senhor que seu amor é sem fim...”.
Encerrada a conversa comunitária sobre a Palavra de Deus cantamos a Ladainha do Santos, rogando aos nossos Santos e Santas interceder por nossas necessidades junto a Deus Criador.
Após a Ladainha foi trazida para o Altar uma bacia cheia de água. Invocamos juntos a benção de Deus sobre a mesma. Recordando o nosso Batismo, renovamos as promessas outrora feitas por nossos pais e padrinhos de renunciar a tudo o que nos afasta do projeto de Deus e de acreditar sempre mais na presença dele agindo em nosso meio. Ao término da renovação, cada pessoa recebeu a benção de Deus simbolizada na água derramada em suas cabeças.
Diante do Santíssimo Sacramento, exposto sobre o Altar pelos Ministros da Eucaristia, fomos convidados a rezar de mãos dadas, em sinal de nossa união e solidariedade, a oração ensinada por Jesus, “Pai Nosso... livrai-nos do mal! Pois vosso é o Reino, o Poder e a Glória para sempre”. O Corpo do Senhor Ressuscitado foi partilhado entre os irmãos e as irmãs. “E quando amanhecer o dia eterno, a plena visão, ressurgiremos por crer nesta vida escondida no pão”.
Momento de agradecer. Cada um foi convidado a agradecer e lembrar a Deus o que mais lhe chamou atenção nesta Semana Santa e os sinais de ressurreição vivenciados no decorrer da vida. Finalmente pedimos a Deus a benção para continuarmos a ser as testemunhas do Ressuscitado, assim como o foi Maria Madalena, Pedro, Tiago, João, André e tantos outros. Desejando Feliz Páscoa, nos abraçamos mutuamente. “Cristo está vivo, ressuscitou! Da morte vencida, vida nova brotou! Amém, Aleluia, Aleluia!

* Este texto é fruto da experiência da Semana Santa que o autor viveu na
Comunidade de Virgínia Vela, paróquia de Rio Novo do Sul, ES, no ano de 1991.


Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.
eliomar@jesuitas.org.br

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