sexta-feira, 25 de março de 2011

Os Sentidos na Celebração: AUDIÇÃO - Eliomar Ribeiro

 

Falamos sobre o sentido da visão na nossa última reflexão. Hoje vamos conversar sobre a audição. O que mais freqüentemente costumamos ouvir? Você costuma selecionar aquilo que escuta, ou vai acumulando tudo? Pois é, há gente que pensa que precisa ouvir tudo e acaba descuidando de outras dimensões importantes da vida.

Mas, será que Audição tem algo a ver com Liturgia? Tem tudo a ver. Você sabia que a Palavra de Deus é um dos elementos que constituem a Celebração Litúrgica Cristã? Então, nossas celebrações nos fartam de alimento para a audição. Além dos textos Bíblicos, que já são muitos, algumas pessoas insistem em multiplicar as palavras. Algumas celebrações mais parecem reuniões para tratar de negócio ou um comício político do que mesmo uma celebração da fé e da vida.

O que verdadeiramente deve dar sabor ao nosso sentido de ouvir é a Palavra de Deus, bem proclamada, com expressão. Os leitores devem haver compreendido o texto que vai proclamar, devem haver assimilado e até mesmo rezado o texto a ser proclamado. Lembra do profeta Isaías, a quem Deus mandou que engolisse o livro. Claro que é uma figura de linguagem, mas nossos leitores deveriam mesmo fazer esta experiência: engolir, digerir, degustar e deixar-se conduzir pela palavra. A assembléia celebrante percebe quando um texto é bem proclamado. “Dá gosto de ouvir!”, não é assim que diz o nosso povo? Quando alguém fala bem e bonito, dá gosto de ouvir! Viu só, ouvido também sente gosto, não é só nossa boca e nossas narinas.

O sentido da Audição está ligado também com o que cantamos na celebração. Não vamos a uma celebração só para escutar. Mas para participar: cantando, dando resposta, afirmando, proclamando, aclamando... tudo isso tem a ver com nosso sentido de ouvir. Há um texto de R. Tagore, um grande poeta e místico da Índia, que eu gosto muito, até transformei numa música para aclamar a palavra: “Deixa-me ficar em paz, Senhor, para ouvir tua Palavra no coração do meu silêncio...” Ouvir a Palavra de Deus no coração do silêncio. Você pode perguntar, mas silêncio tem coração? Vivendo e aprendendo, assim é a vida! Experimente você também escutar o coração do seu silêncio e assim curtir o silêncio no seu coração.

A Celebração Litúrgica é uma grande escuta da vontade de Deus e ao mesmo tempo uma resposta da comunidade que celebra. O importante não é repetir a fórmula. Muitas vezes parecemos papagaios treinados, repetindo tudo certinho, sem dar atenção ao que falamos. O que vale é manifestar a Deus nosso louvor, nosso agradecimento e nosso desejo de sermos melhores a cada dia.

Na celebração trazemos presente os gritos de nossos pobres, sofredores, marginalizados. Temos que estar atentos ao grito dos sem voz, para apresentarmos a Deus o seu clamor. Uma celebração que não compromete não é verdadeira celebração. Lembra daquele relato do livro do Êxodo em que Deus usa os sentidos: “vê, escuta, e desce para libertar o povo da escravidão do Egito”. E nós, o que temos visto, o que estamos escutando e o que estamos fazendo para que nossas Liturgias sejam reflexos de nossas vidas? Não vale acomodar, achar que basta rezar. Isto é muito bom, mas a oração me lança de volta para o mundo, onde os clamores continuam. Não posso fingir-me surdo e mudo.

 

 

Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.

eliomar@jesuitas.org.br

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