sexta-feira, 25 de março de 2011

As surpresas de Deus: A solidariedade do FILHO - Eliomar Ribeiro, SJ



O íntimo relacionamento de Jesus com o Pai lhe dá a identidade de Filho ao mesmo tempo em que revela o sonho de Deus para a humanidade. Jesus é o sonho de Deus realizado na história. Deus sonha com coisas boas para seus filhos. Mesmo a morte de cruz, castigo cruel e perverso imposto a Jesus, não significou um abandono do Pai ao Filho amado, e sim, uma solidariedade de ambos para com a humanidade. Só quem está age pela ação do Espírito Santo de Deus é capaz de assumir o martírio como entrega total; maior amor tem quem dá a própria vida para que outros vivam. É um des-viver para que a vida possa continuar sendo a razão maior da existência humana.

A morte de Jesus não é o ponto final de sua existência. É o começo de uma Vida Nova. A experiência da ressurreição lança luz sobre toda a sua vida. Agora é possível compreender seus gestos, suas palavras, suas ações. Às vezes não é fácil compreender toda a beleza de uma pessoa quando a temos por perto. Quando vem a saudade, a falta, a necessidade da presença é que tanta coisa boa começa a se desvelar e ficamos curtindo a ausente-presença da pessoa amada. Assim foi com os discípulos em relação a Jesus: o coração ardendo, os olhos meios embaraçados, as idéias se confundem, a certeza se transforma em dúvida, a luz se converte em trevas. Bastou um estalar de dedos, um partilhar o pão, um pouco de peixe assado na beira da praia, uma saudação de paz para que a esperança fosse reacendida, o coração se iluminou novamente. O Senhor está vivo! Segue vivendo em nosso meio!

Na vida de Jesus é que podemos compreender a razão da sua morte. Você já parou pra pensar na misericórdia de Jesus para com as mulheres rejeitadas? Na sua valentia em perguntar a um homem se ele o amava, insistindo pelo menos três vezes? Na ousadia em deixar-se acariciar com perfume pelas mãos de uma mulher? No carinho com que acolhe as crianças, tomando-as nos braços, sentando-as no colo e contanto história do Reino pra elas? Na alegria de ver o cego recuperar a vista e louvar a Deus? Pois bem, só olhando assim para Jesus é que entendemos o motivo do seu calvário. Não era possível a uma lógica dominante de exclusão, de poder às custas da miséria dos pobres, de machismo travestido de patriarcalismo, de uma visão de Deus que retribui conforme a bondade e castiga as infidelidades eternamente, aceitar que Jesus é o Filho de Deus. Eles queriam um rei potente, cheio de riquezas e glórias para restaurar a poder perdido. Não conseguem perceber que Jesus vem trazendo a justiça e o amor do Pai.

Hoje, temos que nos cuidar também quanto à imagem de Deus que veiculamos em nossos movimentos religiosos, nossas pastorais, nossas Igrejas. Parece que nos distanciamos demais do Jesus da história e do Cristo da fé e o convertemos em mero fazedor de milagres ou refúgio para a hora do aperto. Se Jesus não está implicado com minha vida e minha história será fácil manipulá-lo ao meu gosto pessoal. Quantas vezes não escutamos alguém falar da “minha” fé, do “meu” Deus, da “minha” oração, quase denotando uma experiência horizontal de fé. A pergunta que podemos fazer é a seguinte: é possível privatizar a fé? Ou ela é a experiência que cada pessoa faz porque a confessa e professa numa comunidade que crê, que é a Igreja? É preciso voltar ao Evangelho para buscar as características do Senhor Jesus a quem estamos servindo. Ele é o Filho que nos revela o coração do Pai e nos dá o Espírito Santo para animar a nossa caminhada de irmãos.

A vida de Jesus pode ser resumida na definição dos Atos dos Apóstolos: “Ele passou em nosso meio fazendo o bem”. Viver a Espiritualidade de Jesus é converter o nosso coração para os amados do Reino. Nossa oração terá maior sentido se estiver acompanhada pela prática da justiça, da caridade, do amor, da misericórdia, da compaixão, da solidariedade, da entrega total, da ternura de Jesus. Andando no seu caminho e seguindo seus passos vamos aprendendo a ser melhores para que o mundo seja, enfim, a casa de Deus.

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