sexta-feira, 25 de março de 2011

Grupo de jovens: por que não?


Dando continuidade ao assunto “características do jovem urbano”, trazemos, hoje, para discussão e aprofundamento dos grupos, as características dos jovens de classe média-baixa. A poesia, como forma literária, oportuniza a declamação e também a dramatização ou outra forma de apresentação do conteúdo, dependendo da criatividade do grupo. O mais importante é abrir discussão sobre as características dos jovens dessa camada social.
Eu desejo entrar num grupo
que me aceite e queira bem...
Por isso me apresento:
o meu jeito eu não escondo,
sou da classe média-baixa,
nasci na cidade, no asfalto,
e me chamo João Luiz.
Eu gosto de andar na moda,
de dançar, me divertir
ao som do break e do rock
e do punk bem moderninho.
A música sertaneja
que canta a dor e a tristeza,
também cai dentro de mim.
Meu esporte preferido
é aquele de todo mundo...
Adivinharam? ‘Stá certo!
Isto mesmo: é o futebol.
Da arte, eu gostaria,
mas ela está longe de mim.
Arte é p’ra gente rica
que entra na televisão.
Em amigos, família, parentes,
eu me ligo até demais
e digo, sinceramente,
que os meus velhos são legais,
embora sejam mandões!
Namoro p’ra me casar,
acredite quem quiser!
Só que me falta dinheiro...
então, faço sexo primeiro,
sem pensar no que vai dar.
Estudar? Ah, sim, estudo,
numa escola que é uma droga.
É de noite. O sono ataca,
mas estudar é preciso
p’ra poder vencer na vida;
quando dá, eu mato aula,
por esperteza, afinal.
De estar sozinho, não gosto.
Na escola, encontro um grupinho
de conversa e de piadas,
quase todas “da pesada”,
mas é moda ser assim.
Não pergunte, por favor,
se estou metido em drogas.
Só vou contar bem baixinho,
que muitos jovens da turma
puxam seguido um fuminho.
Não gosto de autoridade,
de chefes, de manda-chuvas;
o que me dói, me revolta,
é ter de agüentar os mandões,
seja na escola,
no serviço, ou onde for.
Política, me dá raiva,
muita raiva de engolir.
É coisa de presidente,
governador e prefeito.
Eu nem quero discutir.
O voto aos 16 anos
parece uma coisa boa,
desde que a gente se alerte,
estude, critique, desperte
e não entre em qualquer canoa.
Muita gente me pergunta
qual é minha religião:
já não sei: mudei três vezes.
Deus, a Virgem e o Menino
até que são bem legais.
Mas esse negócio de igreja,
Congelei. Deixei pra lá...
Só me dava confusão.
Aí está o meu retrato,
e acrescento um pouco mais:
tenho trabalho e emprego
p’ra ajudar minha família,
meus pais e meus 4 irmãos.
Sou honesto em meu serviço,
cumpro bem a obrigação.
Quero lutar contra a fome,
o desemprego e a violência.
A falta de moradia,
o racismo, as injustiças
São coisas que doem demais.
Será que os grupos de jovens
dão resposta a isso aí?
Mas, que grupos? Quero ver!
São de festa? De teatro?
De saúde? Meio ambiente?
De trabalho? Sindicato?
Movimento Popular?
Grupos de Igreja, de Bíblia?
Gostaria de saber,
gostaria de testar.
Vocês, que agora me ouviram
e já sabem como é que eu sou,
e o que desejo e procuro,
acham que eu disse a verdade?
Acham que eu fiz o retato
de um jovem de classe-média,
remediado, média-baixa?
Quem concorda, que o diga...
Quem discorda, diga também.
E aí, vamos discutir,
procurar uma saída,
como “esse” jovem pediu.
Maria Augusta Ghisleni.
Artigo publicado no mês de Junho de 1989, página 10.

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