sexta-feira, 25 de março de 2011

As surpresas de Deus: A força do ESPÍRITO - Eliomar Ribeiro, SJ



            “Dois jovens conversavam à beira de um rio sobre o sentido da vida. De repente, ouvem gritos de criança e notam que um menino de colo está descendo na correnteza. Apressadamente eles se jogam na água e salvam o menino. Em seguida, mais gritos. Desta vez três crianças são arrastadas pelas águas. Pulam novamente no rio e cada um salva uma criança. Ainda tristes por não conseguirem salvar a terceira criança escutam choro e gritos novamente. Agora é um número maior de crianças que são arrastadas água afora. Um deles pula n’água e começa a nadar desesperadamente para salvar as crianças. O outro, ao invés, sai apressado. O companheiro que está no rio pergunta o que está acontecendo: vai abandonar as crianças à morte!? Ao que o outro responde: continue a salvar algumas crianças que eu vou descobrir quem as está jogando rio abaixo”.

         Este conto nos ajuda a entender a ação do Espírito Santo nas nossas vidas. Quando falamos em Espiritualidade queremos dizer da ação do Espírito de Jesus em nossas vidas. Jesus passou em nosso meio fazendo o bem e nos convida a continuar, na força do seu Espírito, a cuidar da vida e da esperança das pessoas com quem convivemos. Diante da vida ameaçada, o Espírito nos inspira e nos impele a uma ação concreta. É preciso salvar vidas, mas é preciso detectar e estancar as causas que levam à morte. Hoje em dia vemos, pasmados, a vida ser tratada como objeto de brincadeira. Quem não se lembra daqueles jovens de Brasília que atearam fogo no índio Galdino Pataxó!? Estavam brincando com a vida alheia!

         O Espírito Santo é força que garante toda ação positiva em nossas vidas. Ele age na vida pessoal, mas muito mais nas experiências comunitárias. Ninguém pode prender o Espírito como se aprisiona passarinho na gaiola. “O Espírito é vento incessante ... ele sopra até no absurdo!”  Mesmo quando não damos conta de definir a nossa experiência de fé, há uma força que anima nossa vida, que grita que além da montanha há muito caminho por se fazer. Quando não há mais palavras, resta a Palavra que o Espírito diz. Quem se deixa guiar pelo Espírito de Deus sabe que o caminho se faz caminhando. Não dá pra entrar pelo atalho nem ficar parado à beira da estrada. Quando caímos, outros caminheiros nos colocam de pé. É uma caminhada solidária. Ninguém pode ser deixado à margem, perdido, sem rumo.

         Neste final de milênio quando muitas “ondas” ameaçam a pessoa e o projeto de Jesus, temos que perguntar se estamos nos deixando verdadeiramente guiar por seu Espírito. Há ainda muitos cristãos que se relacionam com Deus numa relação de troca: eu dou e mereço receber. Outros preferem uma espiritualidade espiritualista: basta louvar uma vez por semana, desafogar o coração, sentir-me em paz comigo que tudo vai bem. Outros ainda vivem uma fé desencarnada: a comunidade que celebra não é importante, a participação nos sacramentos é coisa de gente velha, o importante é curtir Jesus que está no meu coração. Temos que ter um grande cuidado para não sermos como os fariseus que louvavam a Deus com os lábios, mas tinham o coração totalmente distante dEle. Jesus nos deu a receita para o verdadeiro amor: o que importa é adorar a Deus em espírito e verdade! Ou seja: aquilo que a gente crê e vive na comunidade de fé é o mesmo que se vai viver na vida diária. Não dá pra separar as coisas, senão a gente entra pelo caminho de uma certa “esquizofrenia espiritual”: pra cada momento da vida uma máscara diferente, uma atitude nova, etc. Deus nos quer únicos, inteiros, plenos, maduros, apaixonados, amantes da vida.

         Vivamos na força do Espírito que faz novas todas as coisas e nos convida a entrar no mar da vida para resgatar da morte quem está desesperado, jogado fora por um sistema que oprime, que corrói, que destroça qualquer esperança. Vamos também à busca da causa de tantos males, confiantes que Deus, que ressuscitou o Filho Jesus da morte pela força do Espírito, nos acompanha sempre neste processo permanente. A Espiritualidade cristã não pode ser vivida em momentos isolados, pois ela é que move toda a ação humana e cristã.

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