sexta-feira, 25 de março de 2011

A Palavra de Deus na Liturgia - Eliomar Ribeiro

 
A Liturgia Cristã é a ação festiva, pública e comunitária das pessoas que professam sua Fé em Deus e se reúnem com Jesus Cristo para o memorial da sua vida, morte e ressurreição. Nesta ação litúrgica encontramos unidas dialeticamente as várias formas da presença de Cristo: na Igreja reunida, na Palavra proclamada e na Eucaristia partilhada.
A Escritura Sagrada, corpo verbal de Cristo, tem um papel fundante e fundamental na Liturgia Cristã. Antes mesmo do cristianismo, a proclamação da Escritura como Palavra de Deus era um elemento constitutivo da liturgia judaica, na Sinagoga.

A Escritura Sagrada, na Liturgia Cristã, não é simplesmente para ser lida como um documento histórico mas é, sobretudo, uma atualização viva e misteriosa da presença de um Deus que se nos quer comunicar também pela sua Palavra. “A Sagrada Escritura, na Liturgia, aparece como um modelo estruturante da comunicação entre Deus e os homens”.
Não há Liturgia sem Palavra. Jesus é a Palavra de Deus que se fez gente como nós. Ele mesmo é o portador e a Boa Notícia do Pai. Na Celebração, a Escritura Sagrada, com textos previamente selecionados, no Lecionário, é usada essencialmente para proclamar o que Deus tem a nos dizer através dos Profetas, de seu Filho Jesus Cristo e dos Apóstolos, e para responder a Ele com nossas vidas no movimento dinâmico de escuta e prática do que ouvimos, como nos adverte S. Tiago 1,22: “tornai-vos praticantes da Palavra e não simplesmente ouvintes. “Na Liturgia, Deus fala a seu povo. Cristo ainda anuncia o Evangelho. E o povo responde a Deus, ora com cânticos ora com orações”.
A Palavra de Deus, que é viva na Igreja, é na Celebração um “sinal celebrativo enquanto contém e expressa a realidade da salvação. Ela proporciona o encontro da comunidade com o próprio Deus que se comunica e se faz presente em Jesus Cristo” (OPD, n.20, CNBB, doc. 52). A sua proclamação deve ser revestida de um cuidado e um respeito todo especial, afinal é Deus mesmo quem nos fala. Além da proclamação, a interpretação é ação significativa e atualizante da Palavra. Há que se cuidar sempre mais da preparação de leitores(as) que melhor possam ajudar o povo de Deus a ouvir e compreender o que Deus nos quer dizer com sua Palavra.
A Palavra de Deus está presente na celebração dos Sacramentos e na Liturgia das Horas. Está também presente em diversas outras expressões da fé do povo de Deus, os Sacramentais: procissões, romarias, celebrações da Palavra, encontros de oração, cultos ecumênicos, etc.
Na Celebração Eucarística, há uma relação intrínseca entre a Palavra de Deus e a Eucaristia. Como nos recorda o Concílio Vaticano II, “a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma, como o próprio corpo do Senhor” (DV 21). A comunidade cristã, reunida para celebrar a vida e a fé, alimenta-se do Cristo na mesa da Palavra e na mesa do Pão. Comunga o Cristo tanto na sua Palavra como no seu Corpo. Como tão bem expressou Santo Agostinho: “Bebe-se o Cristo no cálice das Escrituras como no cálice Eucarístico”. A Palavra nos conduz à Eucaristia. A Palavra encontra sua plenitude na Eucaristia, ao mesmo tempo que a fundamenta.
A reforma litúrgica, empreendida pelo Concílio Vaticano II, enriqueceu ainda mais a dimensão celebrativa da vida da Igreja ao apresentar-nos a Palavra como alimento enriquecedor: “A Igreja alimenta-se com o Pão da “Vida na mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo” (Inst. Euchr. Mysterium, n.10). Daí que as comunidades cristãs têm alimento de sobra para saciar sua fome de Deus, na certeza de que Ele mesmo “vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala”. Assim, podemos entoar com o salmista: “A vossa Palavra, Senhor, é mais desejável que o outro; mais saborosa que o mel a escorrer do favo” (Salmo 19,11).
Termino esta breve reflexão citando alguns tópicos das “Orientações para a celebração da Palavra de Deus”, que os Bispos do Brasil publicaram em 1994. Vale a pena a leitura, revisão e mudança da prática celebrativa, proposta pelo documento.
¨ “A dignidade da Palavra de Deus requer, no espaço celebrativo, um lugar próprio para a sua proclamação. Convém que a “Mesa da Palavra” ocupe lugar central. Nela são proclamadas as leituras Bíblicas. Aí aquele que preside, dirige-se à assembléia e profere as orações. para a “Mesa da Palavra” convergem as atenções de todos os presentes” (n. 46).
¨ “Os livros litúrgicos requerem sejam tratados com cuidado e respeito, pois é deles que se proclama a Palavra de Deus e se profere a oração da Igreja. Por isso, na celebração, os ministros tenham em sua mão livros belos e dignos, quer na apresentação quer na encadernação” (n. 47).
¨ “Convém que as comunidades, conforme as circunstâncias específicas, encontrem, dentro da variedade de gestos possíveis, ritos que permitem valorizar e realçar o Livro da Palavra (Bíblia, Lecionário) e a sua proclamação solene. O Livro, sinal da Palavra de Deus, é trazido em procissão, colocado na Mesa da Palavra, aclamado antes e depois da leitura e venerado. Não é recomendável que o leitor proclame a Palavra usando o folheto” (n. 70).
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Leituras recomendadas:
1. Animação da Vida Litúrgica no Brasil, doc. 43, CNBB, Paulinas.
2. Orientações para a celebração da Palavra de Deus, doc. 52, CNBB, Paulinas.
3. A Missa, Ione Buyst, Col. Equipe de Liturgia/4, Vozes.
4. Celebração do Domingo, Ione Buyst, Col. Equipe de Liturgia/5, Vozes.
 
 
Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.
eliomar@jesuitas.org.br

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