sexta-feira, 25 de março de 2011

As surpresas de Deus: O coração do PAI - Eliomar Ribeiro, SJ

Jesus nos revela o Pai! Esta frase tradicional nos ajuda a compreender a Espiritualidade do coração do Pai que está presente na vida e na ação do Filho Jesus. A experiência de Jesus não é revelar algo sobre Deus, e sim algo de Deus: ele é Abbá, Papaizinho!

A Espiritualidade é um maravilhar-se diante das maravilhas que Deus vai realizando nas nossas vidas. Mesmo nos momentos de crise de fé, em que tudo parece não ter solução, esconde-se uma comunicação de Deus, uma estranha presença sua. Como aquele peregrino na areia que ao final da caminhada, desesperado, descobre que nos piores momentos de sua história Deus o carregou no colo.

A Espiritualidade cristã é a dimensão de profundidade da vida cristã. É aquele momento em que a superficialidade cede lugar a algo mais profundo. O relacionamento com Deus é algo necessário para a verdadeira vida da pessoa; neste momento a comunidade cristã será o espaço em que tal relacionamento é celebrado, partilhado e vivenciado. Deus por primeiro inicia a experiência conosco em Jesus.

O relacionamento requer atitudes: trata-se, portanto, de reconhecer o que vem de Deus como dom, presente, oferta de graça; reconhecer a pessoa de Deus em Jesus e nas pessoas que o refletem para o mundo; e desejar associar-se a Deus, como parceiro e companheiro, em sua atuação na construção do Reino. Na verdade, a condição básica para qualquer relacionamento é não rompê-lo jamais.

Vejamos o caso do filho perdoado e do pai misericordioso (cf. Lucas 15,11-32). O filho quer “liberdade”, tem dificuldade de viver o EU na casa do pai, talvez sinta-se sufocado pela presença do irmão mais velho. Ele precisa ser reconhecido! Cansou de trabalhar na roça, quer conhecer a cidade, conviver com gente diferente. Aí vem a tentação de romper a relação com o pai, o irmão mais velho, a sua casa. Pede a sua parte na herança e ganha o mundo. Gasta o que recebeu e na verdade perde também sua dignidade de filho, uma vez que abandonou a casa paterna. Sua vida é reduzida a nada. Vai cuidar de porcos e nem a comida destes lhe é permitido comer. Lembra-se da casa paterna e de como era tratado pelo pai. Percebe a burrada que fez e decide voltar. Prepara as palavras que vai dizer ao pai e começa o caminho de volta.

O pai, pelo que deixa transparecer a parábola, está dia e noite com o coração apertado, com saudades do filho e imaginando porque caminhos ele anda, sem saber nenhuma notícia dele. Todos os dias fica olhando na estrada para vê-lo voltar. Num certo dia vê um vulto distante e já sente no coração que é o filho que está voltando. Coração bate mais forte a cada passo do filho. Sai no terreiro e acolhe o filho com um abraço. Lágrimas rolam dos olhos de ambos. Manda trazer roupa nova, sandálias para os pés descalços e cansados, anel para selar o laço familiar e mais ainda, “é preciso festejar porque este meu filho estava morto e voltou à vida”. Matem o boi gordo, chamem o melhor conjunto musical, convidem a vizinhança e vamos fazer uma grande festa pela volta deste meu filho. Não importa o que ele fez, o que vale é que voltou à casa que sempre foi sua. Alegremo-nos! Nem a inveja e a raiva do filho mais velho atrapalha a alegria do pai. Entre você também para festejar conosco.

A parábola denota uma total misericórdia e compaixão do pai, como daquele bom Pastor que deixa as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro daquela uma que se perdeu. Assim é o nosso Deus, fonte de ternura, alegria e perdão. Um Deus com um coração enorme! Ele não está preocupado com o que fazemos ou deixamos de fazer. O que ele quer que nossas atitudes revelem o nosso relacionamento com Ele. Quem anda no caminho de Deus não pode deixar-se iludir pelos atalhos de beira-de-estrada. Jesus se apresenta como Caminho, Verdade e Vida. Quem anda no atalho é porque ainda não descobriu o Caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário