sexta-feira, 25 de março de 2011

Confusão entre o papel do assessor e o papel do coordenador jovem - Pe. Jorge Boran

 
Neste artigo continuo descrevendo uma experiência de montagem de estruturas de coordenação que são necessárias para um processo de acompanhamento sistemático dos jovens nos grupos de base. Nos artigos anteriores descrevi os passos na montagem de uma coordenação de uma área ou setor pastoral. Agora há uma importante evolução.
Até este momento o assessor religioso coordenava tudo. Mas agora é necessário fazer distinção entre os papel do assessor e do coordenador jovem. É momento de os jovens assumirem seu papel de coordenação e o assessor seu papel específico de assessor.

Vimos no último artigo o encaminhamento de uma equipe central. A nova equipe central (Coordenador, vice-coordenador, secretária, tesoureiro etc.) reúne-se com o assessor para preparar a reunião da coordenação setorial. O assessor agora precisa entender seu papel específico: o papel de incentivar os novos líderes jovens a assumirem responsabilidade pela condução da Pastoral. A única maneira de formar líderes - jovens responsáveis - que têm iniciativa - que são motivados porque sentem-se donos da sua própria pastoral, é dando responsabilidade para eles, é deixando participar do processo decisório, inclusive deixando errar para que possam aprender com seus erros. O assessor continue com um papel importante de educador na fé, de apoio, de incentivo, de orientação e de crítica construtiva mas procura evitar atitudes paternalistas¹ ou autoritárias que enfraquece o protagonismo dos jovens.
O assessor religioso não é mais a única pessoa envolvida na preparação da pauta. Mas há uma dificuldade: a recém eleita jovem coordenadora não está acostumada a tomar iniciativa. Espera o assessor religioso coordenar a reunião. E aqui é a prova de um bom assessor. Precisa resistir à tentação de tomar as rédeas nas mãos, de assumir o comando. Se fizer isso não vai formar líderes; não vai despertar nos jovens a confiança nas suas próprias capacidades. Precisa dizer claramente: "Você é coordenador, precisa coordenar esta reunião de preparação da pauta da reunião do conselho setorial." É necessário fazer o levantamento de assuntos, ver os assuntos com mais prioridade e ver a seqüência, fazer lista dos comunicados e distribuir o tempo. Na próxima reunião do conselho setorial não é mais o assessor que coordena, mas a jovem coordenadora com os membros da sua equipe central. Funções até agora assumidas pelo assessor adulto agora são assumidas pela equipe central: preparação da pauta em conjunto, envio da pauta pelo correio, administração financeira, contatos etc. Agora começa a operar um princípio pedagógico importante: Os jovens aprendem a ser responsáveis, não escutando exortações sobre responsabilidade, mas assumindo posições de responsabilidade. Aprendem na prática como preparar uma pauta, como coordenar, como organizar, como planejar, como acompanhar, como motivar. Aprendem a tomar nota, a usar caderno e a cobrar decisões tomadas anteriormente.
O assessor agora trabalha mais nos bastidores assessorando onde for necessário. Sua função continua importante - mas agora é diferente. Sente que não é sempre fácil se disciplinar e falar por último quando tem a resposta pronta. Não é fácil deixar de ser centro de tudo, de ser "estrelinha" e seguir o exemplo de João Batista: "eu devo diminuir para que Jesus Cristo apareça". É necessário incentivar as novas estruturas que garantem um processo de democracia interna. É preciso acreditar que a democracia é melhor do que a monarquia. Num processo de democracia o confronto de idéias possibilita perspectivas diferentes e acesso a informações mais completas. Não há uma única pessoa falando. Esta maneira de se organizar comunica melhor a experiência de uma igreja ministerial, onde há dons diferentes que se complementam. O mal de muitos grupos e coordenações é sua maneira monárquica de se organizar. Os monarcas não formam líderes, não passam a bola. Para os líderes paternalistas ou autoritários novos líderes que despontam são vistos como uma ameaça a ser combatida. Paulo Freire falava da dificuldade de implantar um processo democrático numa cultura de 500 anos de autoritarismo. O desafio maior são as estruturas autoritárias dentro de nós - freqüentemente inconscientes.
Perguntas para trabalho em grupos
1. Qual a importância do assessor na PJ? Como conquistar e capacitar mais assessores?
2. Qual o papel do assessor como educador na fé?
3. Baseado neste texto e sua experiência como você entende os papeis diferentes do assessor e o coordenador jovem?
Pe. Jorge Boran
 
Para esclarecer melhor:
Paternalismo, em um sentido amplo, é um sistema de relações sociais e trabalhistas, unidos por um conjunto de valores, doutrinas políticas e normas fundadas na valorização positiva da pessoa do patriarca.
Tendência para a proteção, para a tolerância; favoritismo, nepotismo.
Em um sentido mais concreto, o paternalismo é uma modalidade de autoritarismo, na qual uma pessoa exerce o poder sobre outra combinando decisões arbitrárias e inquestionáveis, com elementos sentimentais e concessões graciosas.
Com origem na palavra latina pater , que significa pai, o paternalismo pode ser definido como uma atitude que pretende legitimar uma relação de despotismo ou de tirania. Este modelo, retirado das relações familiares entre pais e filhos, é aplicado a relações de poder e submissão que provocam desigualdades econômicas, sociais e políticas. Esse poder é tornado necessário e protetor, aos olhos da sociedade, legitimando as restrições à liberdade dos indivíduos.
Os especialistas consideram que existe um elemento de "despotismo" nas relações familiares entre pais e filhos que é legitimado pelo amor e também pela existência, em princípio, da defesa de interesses comuns. Esta relação de domínio traduz-se, na maior parte das vezes, em benefícios reais para o lado que é dominado. Mas por vezes, tal não acontece, e os desequilíbrios de interesses levam à exploração econômica, aos maus tratos e outros atentados aos direitos humanos de que as crianças são vítimas tanto nos países ricos como nos países afetados pela guerra e pela pobreza.
Uma das principais características do paternalismo, enquanto ideologia política, é a preocupação em justificar o domínio pela necessidade do dominado, cuja dependência, imaturidade e irresponsabilidade é associada à infância. Como argumento de legitimação, o paternalista age para bem daquele que oprime, quer este seja o seu escravo ou o seu trabalhador. O paternalismo foi amplamente usado, como ideologia, pelas sociedades colonialistas, dotadas de uma "missão civilizadora" de culturas e etnias diferentes, e é ainda hoje muito utilizado nas relações de trabalho entre indivíduos e até mesmo entre culturas, nomeadamente de países ricos em relação a países pobres.
O grau de aceitação da legitimação do domínio por parte daquele que é dominado difere muito da situação, da idade e da relação entre as pessoas. Normalmente, a relação paternalista entre professores e alunos é considerada necessária e aceitável, enquanto que entre senhores e escravos já não o é ou apenas o é enquanto forma de sobrevivência. Durante o período da escravatura, a ideologia paternalista de domínio foi reforçada pelas relações familiares resultantes da miscigenação entre os senhores e as suas escravas.
Um estudo realizado pelo professor e pesquisador do Programa de Estudos do Futuro (Profuturo) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Alfredo Behrens, com alunos de MBA da Europa e do Brasil, revela que o brasileiro prefere estilo de liderança paternalista, que relaciona a ação do gestor com compreensão, protecionismo e amizade.

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