sexta-feira, 25 de março de 2011

COMO A IGREJA ESTÁ ACOLHENDO A JUVENTUDE - José Lisboa Moreira de Oliveira, SDV

CDPJ - COORDENAÇÃO DIOCESANA DA PASTORAL DA JUVENTUDE

DIOCESE DE DOURADOS – REGIONAL OESTE I – BLOCO OESTE


COMO A IGREJA ESTÁ ACOLHENDO A JUVENTUDE

                Os documentos da Igreja são unânimes em afirmar que o serviço de animação vocacional depende do modo como a Igreja vê os jovens, do dinamismo da sua Pastoral da Juventude (PJ). Em 1981, no Documento Conclusivo do 2.º Congresso Internacional das Vocações, realizado em Roma, dizia-se o seguinte: “Pastoral juvenil e pastoral vocacional são complementares. A pastoral específica das vocações encontra na pastoral juvenil o seu espaço vital” (n.º 42). Nas Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil, promulgadas em 1995, se afirma claramente que o desenvolvimento da Pastoral Vocacional (PV) depende da sua articulação com a PJ (n.º 35). No Documento Final do 1.º Congresso Vocacional do Brasil, realizado há um ano atrás em Itaici (SP), viu-se a necessidade de “um trabalho de integração entre pastoral da juventude e pastoral vocacional, respeitando a especificidade e a identidade de cada uma” (n.º 36).
                Este processo de interação supõe uma PJ articulada, motivada, apoiada. Depende do espaço que os jovens e as jovens encontram nas dioceses e nas paróquias. Do modo como eles são acolhidos e reconhecidos como protagonistas nas Igrejas locais.

                Na teoria ninguém tem mais dúvida da importância da juventude para o futuro da Igreja. Desde Medellín, em 1968, os jovens são vistos não só como grupo mais numeroso, mas como “grande força nova” (Medellín, Juventude, 1,1). Esta visão da juventude como sujeito da Evangelização aparece também nas últimas Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja no Brasil. No 15.º Plano Bienal de Atividades do Secretariado Nacional da CNBB (Doc. 63) se diz que, através do Setor Juventude, a CNBB “tem a missão de garantir que a opção pelos jovens seja afetiva e efetiva na Igreja do Brasil, retomando a opção assumida em Puebla...” (pág. 71).

                I. OS SÉRIOS DESAFIOS PARA A JUVENTUDE
               
                1.1. O grande clamor dos jovens

Na prática, porém, a situação parece estar bem diferente. Uma pesquisa realizada recentemente pelo Setor Juventude da CNBB demonstra que existem muitas dificuldades
Cálculos feitos por este mesmo Setor indicam que, no Brasil, existem cerca de 30 mil grupos de jovens, reunindo semanalmente mais ou menos 750 mil adolescentes e jovens, o que significa quase 1% da população brasileira nessa faixa etária. Se considerarmos que esses possam atingir outros jovens em seus ambientes podemos multiplicar este valor por 10. Mas o grande clamor dos jovens é a falta de  acompanhamento. Esses grupos, em sua maioria, recebem o material elaborado pela PJ do Brasil, mas se queixam que há poucas pessoas adultas (leigos, consagrados, consagradas, diáconos, padres) para segui-los de perto. Sentem a falta de assessores, de gente com mais experiência eclesial que queira ajudá-los na tarefa de vivenciar a fé.
Na pesquisa do Setor Juventude aparece bem claro que as pessoas que fazem este serviço de acompanhamento, na maioria das vezes, não são preparadas para esta missão. Em muitos lugares isso é feito por seminaristas, nos finais de semana. Os jovens se lamentam também de que não há investimento na formação deles e daqueles que devem acompanhá-los. Tanto as dioceses como as paróquias dizem que é perda de dinheiro e de tempo investir nos jovens que depois desaparecem devido à migração e pela instabilidade dos membros dos grupos. Isso está quase sempre relacionado com a questão do emprego. Há também muitas cobranças com relação à juventude. Muitos assumem atividades como animar a liturgia e a catequese. Com isso sobra pouco tempo para o aprofundamento da fé. São muitos os jovens e as jovens que trabalham e estudam, não dispondo de muito tempo para muita coisa. Os que têm mais tempo não têm tanto interesse por um compromisso sério com a comunidade.
       
        1.2. Outros desafios
 Além desses problemas os jovens e as jovens são obrigados a enfrentar outros desafios como a  inversão de valores na sociedade. Para a grande maioria a questão financeira torna-se um problema muito sério, gerando outros problemas, como o ingresso no mundo do crime e da droga. Infelizmente, em muitos lugares, a estrutura da PJ não facilita a vida dos jovens e das jovens. De fato, muitos grupos são fechados em si mesmos, não atraindo outros jovens. Muitos destes grupos de jovens já estão envelhecidos e não procuram se renovar, virando peça de museu. Além do mais, por falta de acompanhamento de pessoas mais adultas, não se tem clareza da missão, não há um bom  planejamento da PJ, não se há prioridades bem definidas. Com isso a evasão é muito grande.
                Algumas outras dificuldades são apontadas pelas lideranças da PJ: falta de apoio e credibilidade dos adultos, falta de lideranças para o trabalho junto dos jovens; acompanhamento dos grupos de jovens nas grandes cidades; a diferença entre a linguagem da pastoral e a dos jovens ligados à cultura da imagem e da informática; a falta de escuta e formação dos adultos que trabalham no dia a dia com os jovens; pastoral, muitas vezes, fechada em si mesma, em sua organização e sem estratégias para ir ao encontro dos jovens; dificuldades na implementação de uma pastoral de processos em uma Igreja que valoriza mais uma pastoral de eventos;  resistência de muitos da hierarquia à uma proposta de pastoral que forma lideranças com capacidade de tomar decisões, gerando enfrentamento do clero, que, não poucas vezes, estimula apenas uma postura infantil por parte dos leigos e leigas.
Causa um certo espanto que, nesta pesquisa, os jovens e as jovens de onze (11) dos dezesseis (16) Regionais da CNBB apontem como problema sério a dificuldade de relacionamento com os padres. É dito explicitamente que muitos padres só divulgam e apoiam os movimentos. Gostam apenas de jovens “cordeirinhos”, mansos, “obedientes”, tendo grandes dificuldades em dialogar com aqueles e aquelas que são mais críticos e mais capazes de enxergar a realidade. Às vezes alguns padres, religiosos e religiosas têm uma compreensão distorcida da PJ e isso acaba atrapalhando em vez de ajudar no trabalho. Diversos Regionais disseram que há na maioria do clero total desinteresse pelo trabalho com  a PJ.

1.3. Falta inculturação

Nota-se que um dos maiores desafios para a PJ é encontrar formas de evangelização inculturadas. Têm-se a tentação de colocar tudo no mesmo “caldeirão”. Mas, na verdade, é indispensável metodologias diferentes. Uma coisa, por exemplo, é uma PJ inserida no meio universitário. Outra realidade é organizar a juventude ribeirinha, aquela da roça, de um bairro de periferia e assim por diante. Em um grande número de dioceses não há uma organização por pastorais específicas de juventude: rural, estudantil, popular, indígena, ribeirinha e dos negros. Essa incapacidade de inculturar-se faz com que muitos adultos, inclusive padres, não queiram assumir um serviço de assessoria aos grupos de jovens. Isso leva as coordenações da PJ a um certo desânimo. A isso se acrescenta a realidade urbana que é muito dispersiva. Em muitas comunidades existe um estilo de Igreja excessivamente sacramental e por isso é pouco trabalhada a dimensão da catequese e do compromisso com a comunidade. Neste tipo de Igreja não há nenhuma preocupação com a questão da inculturação.
Junta-se a isso o problema de uma educação deficiente, não possibilitando aos jovens e às jovens o acesso ao saber. Isso é agravado pela falta, na sociedade, de verdadeiros espaços de participação e de credibilidade para os jovens. Neste contexto não deve ser esquecida a situação das famílias cada vez mais desestruturadas, impossibilitadas de oferecer aquela formação que os jovens e as jovens não encontram na escola e na sociedade. Por outro lado, na comunidade eclesial falta uma espiritualidade capaz de preencher todas essas lacunas. Trata-se de uma mística que seja capaz de envolver os jovens e as jovens. Uma mística que os ajude a compreender que eles são verdadeiros construtores de um mundo diferente. Uma mística que os leve a assumir uma militância possível, em condições de gerar conseqüências no campo político e social.

1.4. A relação com os movimentos eclesiais
A pesquisa feita pelo Setor Juventude da CNBB quis verificar como anda a relação da PJ com os movimentos. Viu-se que, no âmbito das dioceses e paróquias, há um certo relacionamento. Isso se dá sobretudo nas atividades que envolvem as massas, como as grandes celebrações. Alguns jovens que participam dos grupos de jovens também freqüentam atividades dos movimentos. Constatou-se, porém, determinados conflitos, especialmente no que diz respeito à metodologia e à linguagem. Há o caso de grupos de jovens que se identificam com a organização da PJ, mas usam também a metodologia de movimentos, principalmente da Renovação Carismática. Essa tentativa “híbrida” nem sempre dá certo, uma vez que, como já foi dito antes, existem grandes diferenças metodológicas e de linguagem entre a PJ e os movimentos. A PJ deseja formar o jovem comprometido com Jesus Cristo na história, não fugindo da realidade. Os movimentos são mais fundamentalistas e conservadores, cultivando um espiritualismo que os afasta do compromisso com a transformação do mundo. A PJ quer ser “fermento”. Muitos movimentos pretendem ser a massa sem fermento. Isso é visível quando os movimentos criticam os projetos de formação e ação da PJ, por serem muito comprometidos com a realidade.
Pode-se dizer que, em muitos lugares, é problemático o relacionamento da PJ com alguns movimentos. A pesquisa aponta para o fato de que o fundamentalismo de certos movimentos não permite o diálogo. Eles partem sempre do pressuposto de que são os donos da verdade. Atacam sempre e tendem a desprezar o que não é deles. Dá-se o caso em que muitos deles não atendem nem ao bispo. São sempre os outros que precisam se converter. Neste clima não há como conversar e trabalhar juntos. Para agravar a situação existem bispos e padres que consideram a PJ como um movimento a mais.  A proposta da PJ do Brasil e da América Latina não é assumida como uma proposta evangelizadora a ser inserida na Pastoral Orgânica da Igreja.
Em outras palavras: a relação da PJ com os novos movimentos religiosos se apresenta conflituosa porque a eclesiologia  da PJ é de comunhão e participação e se aproxima muito mais das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), as quais são para os jovens comprometidos um forte referencial. A metodologia da PJ parte do cotidiano, permitindo que no grupo de jovem os problemas da vida concreta aflorem e encontrem respostas sérias, sem evasões e fugas. O jovem que tenta a dupla pertença - participar do grupo da PJ e freqüentar um movimento - é pressionado pelo movimento, pelos padres a ele ligados e pelas lideranças a deixar o grupo, uma vez que a PJ torna a pessoa mais profética e, portanto, mais incômoda.

II. JUVENTUDE CONSTRUINDO O NOVO

As dificuldades, porém, não são capazes de impedir o avanço da nossa juventude. Mesmo em meio a todos esses desafios os jovens e as jovens conseguem grandes conquistas que são dignas de consideração.

2.1. Formando lideranças

Uma primeira constatação feita pelo Setor Juventude da CNBB é de que muitos jovens que passam pelos grupos continuam, quando adultos, sua atuação tanto na Igreja como na sociedade de maneira marcante. Alguns assumem seu papel como protagonistas em associações, conselhos, partidos políticos. E, na Igreja, destaca-se a presença e dinamismo nas pastorais de cunho social. Um grande número de jovens assume as lideranças das comunidades, na catequese, na liturgia e em outras pastorais. Alguns jovens são ou foram candidatos nas eleições. No Regional Oeste 2, por exemplo, se deu um grande avanço na reflexão política, com uma proposta de quatro candidatos da PJ para o cargo de vereador.
Outra dado bastante significativo é o da formação de lideranças, com uma experiência acumulada de mais de vinte anos. Esse itinerário formativo tem como referencial o processo de educação da fé, que considera cinco dimensões da pessoa:  afetiva, social, espiritual, política, técnica. Ele perpassa todas as atividades, durante todo o tempo da caminhada, juntando teoria e prática, reflexão e ação. Parte sempre da realidade, reflete à luz do Evangelho e decide como atuar, avaliando e celebrando sempre o caminhar. O Plano Trienal 1999-2001 da PJ do Brasil tem contribuído para desencadear uma capacitação mais sistemática por meio de formação mais longa, como a Escola Bíblica para jovens, Escola Permanente da PJR, Escola de Educadores de Adolescentes e Jovens, Escola de liturgia sempre com duração de um ou dois anos de formação. As atividades que vão ao encontro de outros jovens que estão nas escolas ou nas comunidades têm atingido um número significativo. Alguns regionais reúnem 50 mil jovens, com uma preparação nos grupos. O Dia Nacional da Juventude (DNJ), que este ano completa 15 anos, aborda sempre temas que atingem a vida da juventude. A Semana da Cidadania, que já se realiza a 5 anos, é uma atividade mais forte nas escolas, e conta com atividades práticas: documentação, (título de eleitor, certidão de nascimento), atividades nas áreas de saúde, trabalho, educação, ecologia. As missões jovens destacam a dimensão do anúncio, de ir ao encontro dos jovens, formar grupos, trabalhar a catequese. Há também festivais de música sacra e de artes nos regionais.
Neste campo uma experiência que tem dado bons resultados é aquela do encontro das congregações e movimentos que trabalham com jovens, promovido pelo Setor Juventude da CNBB.  Este trabalho tem dado fruto para unidade e maior comunhão com a caminhada da Igreja no Brasil. Muitas são as congregações que ao longo da história sempre apoiaram os jovens, sejam por causa do carisma ou para continuar a sua missão, garantindo novos quadros. Há uma sensibilidade em apoiar o Plano Trienal 1999-2001, elaborado pelos jovens em assembléia. Sinal positivo deste apoio são os Institutos de formação. Neles muitos assessores(as) são religiosos(as). Além disso, há também congregações que apoiam financeiramente algumas atividades nacionais ou regionais.
Muito interessante é a maneira como os jovens e as jovens buscam alternativas para as mais diversas situações. Essas alternativas vão desde as questões mais internas, como, por exemplo a organização da PJ até os problemas financeiros, tentando ajudar os companheiros e companheiras de grupo, de caminhada. Iniciativas como a criação de uma cooperativa de confecção de camisetas para os jovens desempregados e aquela dos cursos de preparação para o vestibular, provam esta verdade. Há procura de alternativas também para os programas de formação, para a capacitação de assessores e para o acompanhamento dos grupos de base. Em várias dioceses existe, por exemplo, cursos de formação de multiplicadores. Estes cursos preparam pessoas para o acompanhamento dos grupos de jovens.

PJ ligando fé e vida concreta

Outro elemento de destaque da pesquisa é o fato de que a PJ do Brasil procurar animar os jovens e as jovens a partir da vida concreta. Isso se dá através das pastorais específicas dentro da própria PJ. Assim sendo, os grupos mais ligados à comunidade e ou paróquia são simplesmente chamados de PJ. Os grupos ligados à comunidade rural seguem a dinâmica da chamada PJR (Pastoral da Juventude Rural). Os grupos ligados à vida da escola são conhecidos por PJE (Pastoral da Juventude Estudantil). Já os grupos que se organizam a partir dos pobres, mais situados nas periferias, seguem a dinâmica da PJMP (Pastoral da Juventude dos Meios Populares).
A PJ propriamente dita começa a ser organizada no Regional Sul 1 (São Paulo), na década de 70. Na década de 80 se organiza em quase todas as dioceses do país. Em 1993 inicia uma reflexão em vista de uma reestruturação. Ela passa então a ter uma coordenação e assessoria. Há, portanto, uma mudança na organização nacional, procurando-se, a partir de então, dar uma acento pedagógico as pastorais específicas. Atualmente a coordenação nacional é formada por um  representante de cada regional. Esta coordenação se encontra uma vez por ano e realiza encontros maiores de três em três anos,  numa assembléia composta por vinte representantes de cada regional. A PJ não tem uma secretaria nacional, mas uma equipe executiva, com um representante por bloco  (Sul, Leste, Oeste, Norte, Nordeste), a qual encaminha as decisões junto aos regionais. Tem uma assessoria nacional e uma equipe de assessores para acompanhar os regionais.  Atua na implementação do Plano Trienal 1999–2001 nos regionais: escolas de formação de coordenadores e assessores, escola bíblica para jovens, escola de liturgia, etc.
A PJR começou em 1983 no Rio Grande do Sul e  no Regional Nordeste 2. Na década de 90 cresce a sua organização em outros Regionais. Estima-se que existam 4.000 grupos, com a média de participação de 23 jovens por grupo. Os jovens e as jovens ligados à PJR participam da Rede de Militantes, dos movimentos sociais (MST, Movimento dos Pequenos Agricultores, Movimento de Mulheres), dos partidos políticos, associações de agricultores, CEBS, Pastoral da Criança, Grupo de Mulheres, Sindicatos, Conselhos Municipais e CPT. Em Chapecó (SC) e em Arapiraca (AL) existem escolas permanentes de formação para a PJR. Existe também a proposta de organizá-las no Regional Centro Oeste, no Sul 2 (Paraná) e no Sul 4 (Santa Catarina).
A PJE nasceu em 1982, de uma experiência de jovens estudantes de Goiânia. Inicialmente chamava-se pastoral secundarista.  Iniciou a articular as experiências em nível nacional em 1984 quando então foi denominada Pastoral da Juventude Estudantil. De lá para cá já aconteceram diversos seminários, encontros, assembléias. Atualmente existem cerca de 400 grupos presentes em treze Regionais da CNBB. Cada grupo reúne uma média de 15 a 20 jovens. O ponto de partida é o grupo. Grupos pequenos, onde a formação e a participação dos jovens parte de princípios como a democracia, a escuta do outro.  Articula-se os grupos das escolas ou cidade e onde é possível também aqueles nas dioceses e nos regionais. Há um esforço de organização por blocos e em nível nacional.  Toda organização visa garantir que a pastoral seja  pelos, com e para os jovens estudantes. Na sua prática a PJE deseja formar novos grupos, cuidar da formação integral dos jovens, desenvolver projetos comunitários, promover a organização e participação dos grêmios estudantis, incentivar a luta pela educação gratuita e de qualidade. Alguns desafios ainda permanecem: motivar os estudantes a fazerem parte da escola, tornar a PJE um espaço de participação dos estudantes cristãos tanto na escola particular como pública, conquistar adultos (leigos, clero diocesano, religiosos, religiosas) para acompanhar o trabalho de organização de grupos a partir dos jovens
A PJMP inicia a sua caminhada em 1978 como um movimento social, devido a repressão militar. Depois passa a ser uma pastoral organizada na região nordeste do país. No final dos anos 80 inicia sua organização em outras dioceses do Brasil. Atualmente reúne cerca de 2.000 grupos, com a média de participação de 20 jovens por grupo. Está organizada em 11 regionais, com um representante por regional na coordenação nacional.  Entre os diversos projetos desenvolvidos por ela estão a alfabetização, cursinhos de pré-vestibular, trabalho com portadores do HIV, presença em associações, partidos políticos e sindicatos, além do acompanhamento à própria pastoral.

                III. INTERROGAÇÕES PARA A PASTORAL VOCACIONAL

                Estas rápidas informações sobre a caminhada da PJ no Brasil levantam alguns questionamentos para aqueles e aquelas que estão mais diretamente comprometidos com o serviço da animação vocacional. Se, como foi dito pouco antes, a juventude é o espaço vital da pastoral vocacional, então certas situações precisam ser repensadas e aprofundadas, pois, do contrário, corremos o risco de “dar murro em ponta de faca”.

                3.1. Avaliar os motivos de rejeição da PJ

                Antes de tudo é indispensável perguntar-se seriamente porque há esta forte rejeição da PJ. De modo particular cabe avaliar porque os padres, especialmente os mais jovens, têm tanta dificuldade em acolher a metodologia da PJ. Precisamos levar mais a sério a denúncia dos próprios jovens. O fato de que onze dos dezesseis Regionais afirmem que os padres não acolhem bem a juventude, não pode de forma alguma ser ignorado. Precisamos, com coragem, verificar se tal dificuldade não nasce da exigência de transparência. A metodologia da PJ conduz à maturidade. Passamos a ter jovens adultos, isto é, com capacidade crítica, de percepção da realidade. Jovens que questionam e incomodam. E talvez isso não seja tão agradável para quem ainda não saiu de uma forma de infantilidade, para quem vive uma experiência de fé pouco comprometida e superficial.
                Paulo VI, profeticamente, em 1975, lembrava que o nosso século “tem sede de autenticidade”. E, a propósito dos jovens e das jovens, ele lembrava que “eles têm horror ao fictício, àquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade e a transparência” (EN, 76). Talvez aqui esteja o problema. Os jovens e as jovens querem pessoas verdadeiras. Não buscam super-homens ou heróis; buscam gente transparente, que não vive de aparências. Eles, muitas vezes, correm atrás de artistas, de “estrelas”, mas na verdade querem ficar com gente comum, com quem não tem uma vida de ficção. Cabe a Pastoral Vocacional ajudar os adultos, de modo particular os padres, a entenderem essa verdade. A rejeição dos jovens é uma clara denúncia da falta de autenticidade dos adultos. No texto mencionado, Paulo VI fala de vigilância. De estarmos atentos aos “silêncios” e também aos “grandes brados” dos jovens, os quais devem ser para nós verdadeiros “sinais dos tempos”. Ele diz que os jovens, com toda razão, nos fazem perguntas inquietantes: vocês realmente acreditam no que anunciam? Vocês, de fato, vivem conforme acreditam? Pregam somente aquilo que vivem?

                3.2. Acreditar nos jovens

                A pesquisa do Setor Juventude da CNBB mostra também que, apesar das inúmeras dificuldades, os jovens e as jovens são criativos, capazes, em condições de levar adiante um projeto de vida e de evangelização. Mesmo com os desafios diante dos olhos, conseguem ir além, sem deixar-se vencer pelo cansaço e pelas adversidades.
                Cabe, pois, à PV, agindo de modo profético, apontar para o potencial da juventude. Mostrar claramente que os nossos jovens e as nossas jovens têm condições de assumir com toda a seriedade uma autêntica caminhada no seguimento de Jesus. Sendo a “coluna vertebral” de toda a Evangelização, a PV precisa acordar as nossas Igrejas para uma maior acolhida e valorização da juventude. Dentro desta perspectiva, toca-lhe contribuir para que haja uma maior interação entre as diversas pastorais, grupos, comunidades e movimentos, de modo que, aos poucos, desapareça o espírito de competição e de vaidade e se caminhe sempre mais na direção da comunhão e da complementaridade, que são as grandes características de uma Igreja que quer ser mais evangélica.
                Às vezes o que há é o medo das grandes interrogações que jovens conscientes trazem para dentro da Igreja. A facilidade com a qual unem fé e vida ameaça quem ainda quer viver de aparências e de mediocridades. A PV é chamada a contribuir para a superação deste medo e a levar aos poucos os adultos, de modo particular os padres, a perceberem que na audácia da juventude está o futuro de nossas comunidades. Uma Igreja sem jovens está necessariamente condenada a morrer. E a Europa Ocidental é a prova mais contundente desta verdade.

                3.3. Interação entre PV e PJ

Da análise da pesquisa em questão nasce também uma forte convicção. É preciso intensificar cada dia mais a parceria entre PV e PJ. Sabemos que o processo de educação da fé proposto pela PJ tem como ponto de chegada a elaboração de um projeto de vida. A caminhada feita pelos jovens nos grupos supõe um amadurecimento que desemboca em uma opção vocacional, consciente e madura, para toda sua vida. Sem esta dimensão vocacional todo  o itinerário ficaria incompleto.
                 A interação entre PV e PJ nasce da convicção de que o chamado do Senhor é sempre concreto e se encarna na situação real de cada pessoa. Dentro desta visão percebe-se que vocação e projeto de vida são dois aspectos inseparáveis de uma mesma realidade. O chamamento de Deus se dá através  de sinais que são interpretados à luz da fé e o caminho de realização intuído, descoberto, assumido e elaborado  pelo jovem e pela jovem. O itinerário pessoal de fé, vivido no contexto da realidade, no confronto com a Palavra, lida e aprofundada no silêncio do coração e no grupo,  levam ao discernimento que capacita para a resposta vocacional.  O serviço, especialmente em favor dos excluídos e excluídas, a oblatividade e a gratuidade, vividos como uma experiência da força libertadora da ação de Deus,  predispõem à entrega total da vida a serviço do Reino.
Dentro desta dinâmica, o projeto de vida  é algo prazeroso, em sintonia com a psicologia da juventude, e uma resposta às necessidades da Igreja e da sociedade. Essa integração entre PV e PJ torna-se ainda mais urgente e necessária se levarmos em conta as dificuldades acima mencionadas. Havendo uma profunda interação a PV ajuda a PJ a ter uma orientação vocacional integral, aberta e criativa. A PJ toma consciência da importância e da necessidade da orientação vocacional. Saberá, então, propor aos grupos de jovens que dediquem um tempo de suas reuniões para a oração pelas vocações e para uma catequese vocacional, que leve os jovens e as jovens a terem uma visão abrangente das vocações na Igreja e a descobrir, dentro da realidade eclesial, aqueles ministérios e serviços de que a comunidade tem necessidade. Todo esse processo pode contribuir para a eliminação das muitas dificuldades que vimos antes, uma vez que aqueles e aquelas que serão os adultos de amanhã estarão mais qualificados para assumir a sua presença na Igreja como vocação. E quando vivemos motivados por um chamado divino desaparecem as motivações periféricas, ambíguas e interesseiras.
               
3.4. O assessor da PJ como orientador vocacional
O que acabou de ser dito mostra que o assessor ou assessora da PJ precisa ser também um orientador vocacional. Ele com a sua presença e com a sua atuação coloca-se a serviço dos jovens e das jovens, procurando amá-los profundamente e dispor-se a ajudá-los no caminho do seguimento de Jesus. Isso, em si, já é discernimento vocacional. Na sua condição de alguém mais adulto, mais experiente, alguém com a capacidade de fazer caminho com os jovens e as jovens, ele vai contribuindo para o protagonismo da juventude na Igreja. Assumindo um perfil evangélico do assessor e da assessora que querem ser orientador ou orientadora vocacional (cf. Lc 24,13-35), eles devem ser capazes de aproximar-se, caminhar com os jovens e as jovens, interessar-se por seus problemas, dialogar, escutar atenciosamente sem escandalizar-se com nada, permitir que sejam sinceros e abertos.
Se o assessor ou assessora da PJ deve ser um animador ou animadora vocacional, nada impede que também os animadores e animadoras vocacionais sejam assessores da PJ. Talvez isso ainda não ficou muito claro para quem assume a PV. Mais do que sair por aí, “pirateando” vocações, buscando jovens em espaços e lugares desconhecidos, talvez fosse melhor marcar presença nos grupos de jovens, pois ali encontramos pessoas concretas, com sede e com vontade de fazer um itinerário sério no seguimento de Jesus. Mais do que investir em propagandas, no marketing vocacional – tantas vezes destinado a jovens anônimos – porque não ir ao encontro de jovens concretos, num lugar onde você pode marcar presença constantemente? Esta é uma questão a ser pensada com muito carinho!

José Lisboa Moreira de Oliveira, SDV

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