sexta-feira, 25 de março de 2011

Os Sentidos na Celebração: TATO - Eliomar Ribeiro


Estamos concluindo nossa breve reflexão sobre como os nossos sentidos são solicitados na Liturgia. Resta-nos perceber como o toto, aquilo que tocamos, pegamos, manuseamos, está presente no modo como Celebramos.

Estive no Paraná, no mês de julho, época fria. Participando de algumas Celebrações, chamou-me a atenção que a maioria das pessoas ficassem de braços cruzados quase todo o tempo da Celebração. Como os cantos eram projetados na parede via retroprojetor, não tinham nada com que ocupar as mãos. Aí fiquei imaginando a pobreza gestual que temos em nossas Liturgias.
Noutras comunidades as pessoas ocupam as mãos com o folheto de cantos e com o que chamam de jornalzinho. Já na porta do local da Celebração eles são distribuídos; parece mais roteiro de show, concerto de música. Quando vamos a um concerto musical geralmente recebemos o folheto com a seqüência da apresentação. Haveremos que chegar num tempo onde folhetos de cantos e jornalzinho sejam apenas lembrança de um tempo passado. Nossas comunidades merecem um livro de canto bem preparado para cantar a Celebração.
Nossas mãos nos foram dadas para tanta coisa e quantas vezes elas ficam sem sentido na Celebração. Na Liturgia as mãos são para louvar, abençoar, ungir, perdoar, abraçar, agradecer, tocar no outro, carregar objetos. Aos poucos vamos descobrindo que as mãos são meio para comunicarmos a Ação de Jesus em nossas vidas. Quantas vezes encontramos Jesus usando o tato para a missão: abraçando as crianças e as acolhendo, tocando o olho do cego com o dedo e o curando, sendo tocado pela mulher e a libertando.
Hoje em dia, usamos nossas mãos cada vez mais para acenar, trabalhar, manusear objetos, tocar um instrumento musical, acariciar a pessoa amada, matar, torturar, causar medo. O importante é que cada um perceba que coisa maravilhosa são as suas mãos e como valorizamos nosso Tato.
Uma Liturgia onde o tato é despertado e valorizado será cada vez mais um encontro com o povo celebrante. Os símbolos que vejo, a palavra que escuto, o cheiro que sinto, o gosto e o sabor que experimento encontrarão também seu lugar naquilo que toco: será a cruz, as velas, as flores, o livro da Palavra que passa pelas minhas mãos, o incenso que poderei tocar, o Corpo do Senhor que recebo em minhas mãos, o Cálice com o seu Sangue que me é dado para beber. Há uma comunhão dos sentidos que me faz entrar em comunhão com os irmãos e com Deus, razão da nossa vida.
Experimente fazer um momento de oração usando as suas mãos. Olhe-as carinhosa e lentamente. Vá recordando dos momentos que você as utiliza... Em que você mais as ocupa? Que gestos você costuma fazer com suas mãos? Você gosta dos seus dedos, das unhas, das mãos como são? Invente um momento de oração com as mãos, para ser partilhado com outras pessoas, com seu grupo de jovens, o grupo da comunidade, a própria assembléia que se reúne no domingo para a Celebração. Procure ensaiar antes e propor para o grupo. Depois faça uma avaliação.
Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.
eliomar@jesuitas.org.br

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