sexta-feira, 25 de março de 2011

Os Sentidos na Celebração: PALADAR - Eliomar Ribeiro

 

Hoje vamos conversar sobre como o paladar é utilizado em nossas Liturgias. Antes de qualquer coisa vale lembrar que paladar está muito relacionado com o olfato. Cheiro e gosto que são despertados pelo sabor.

Como estamos nos movendo no universo do gosto, vamos nos imaginar deliciando um copo de vinho, uma cerveja bem gelada, um pouquinho de cachaça da roça, um suco de laranja. Quando recordamos do gosto acontece uma coisa incrível em nós, notamos que nossa memória retém o gosto, o sabor.

No Brasil, de norte a sul, é comum comer feijão com arroz na hora do almoço. Imagine comê-los sem nenhum tempero. Arroz sem sal é horrível, e feijão sem tempero, nem se fala. Você está lembrado que Jesus diz no Evangelho que nós devemos ser “sal da terra...”!? Então, o que Ele quer é que temperemos o mundo, demos um gosto especial nas realidades onde estamos vivendo.

A Celebração Cristã, no decorrer dos anos, foi perdendo muito a dimensão do paladar. De tudo que havia nas Celebrações das primeiras comunidades cristãs restou-nos apenas o pão e o vinho. Pão foi transformado em hóstia, meio sem gosto, sem sabor e sem aparência. E o vinho - por questões práticas! - ficou reservado ao Padre. Até o sal, que era usado no Batismo, foi abolido.

É preciso saber que nas comunidades primeiras a coisa não foi sempre assim. Os cristãos celebravam a Páscoa do Senhor com pão, vinho, peixe. Ao entrar na cultura greco-romana, o cristianismo incorpora o mel e o leite, que era usado no ritual de acolhida da criança no seio da família, na Celebração do Batismo. Você sabe que somente no século XI é que foi exigido o pão sem fermento para a Celebração da Eucaristia no rito romano?

Nossas Celebrações hoje em dia carecem de utilizar mais o nosso paladar. Mesmo que continuemos a celebrar a Eucaristia somente com pão e vinho (que seja pão mesmo!), que as pessoas que celebram possam alimentar-se do Corpo e Sangue do Senhor. Há experiências que ampliam o sentido da Eucaristia como festa comunitária: são oferecidos bolos, sucos, frutas, outras bebidas que são partilhados por todos ao término da Celebração. Você já se deu conta que a última celebração de Jesus com os seus amigos foi uma refeição fraterna!?

Aos poucos nossos grupos de jovens, nossas comunidades vão descobrindo o valor da mesa do pão: comer juntos é dizer que a gente assume a vida do outro, é transformar a vida do outro. Jesus partilha a mesa com muita gente. Come com pecadores, com mulheres, com cobradores de impostos. Há até a história, contada por Ele, da festa do banquete, cujos convidados não comparecem e aí se convidam todos os que estão pelas praças e esquinas da vida. Festa geral, de todos os famintos! Há também a multiplicação/partilha dos pães que Jesus promove, sinal do banquete preparado para nós junto do Pai.

Comer o Corpo e beber o Sangue do Senhor, na Eucaristia, é comprometer-se com Ele. Somos transformados no Alimento que comemos. Somos Cristificados, Eucaristizados, para ser no mundo sinais permanentes da ternura de Deus Pai que temperou, com sabor novo e novo gosto, o mundo com o presente dado a nós em Jesus Cristo. Não fiquemos com medo de comer!

 

 

Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.

eliomar@jesuitas.org.br

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