sexta-feira, 25 de março de 2011

Os Sentidos na Celebração: VISÃO - Eliomar Ribeiro

 

Terminamos a nossa última conversa falando sobre a impossibilidade de ser cristão do meu jeito. Ser cristão é participar da comunidade e comprometer-se com o projeto de Deus revelado em Jesus Cristo.

Hoje vamos conversar um pouco sobre como nossos SENTIDOS são solicitados na Liturgia. Sentidos lembram também sentimentos, sentir. Você já pensou alguma vez nisto? Então vamos lá. Imagine você entrando pela primeira vez num museu onde estejam em exposição várias obras de pintores e escultores famosos. Certamente a sua visão será o sentido mais utilizado. Você vai parando diante de cada quadro ou mesmo escultura, lê a inscrição com os dados do autor e breve explicação sobre a obra. Seu olhar se fixa na obra e você como que se alimenta da beleza de cada peça da exposição. Nesta hora ninguém fala nada, basta olhar!

Agora vamos ver como nossa visão é solicitada na Liturgia. Antigamente o próprio local da celebração já se encarregava disso. As grandes basílicas, santuários e catedrais eram ornamentadas com pinturas e com estilos que saciavam nosso olhar. Hoje, perdeu-se a beleza das catedrais. As novas construções das Igrejas deixaram de lado a arte da pintura e da escultura. Ainda temos as imagens dos santos, mas algumas são tão feias que não saciam nossa fome de beleza.


Mas será só isso! Claro que não. Vamos imaginar uma celebração da Eucaristia. Primeiro temos todo o rito inicial, com procissão, saudação, Senhor tende piedade, Glória. Depois vem o momento de escutar a Palavra, seguido da profissão de fé e das preces comunitárias. Com a apresentação do pão e do vinho inicia-se o outro momento celebrativo: da mesa do pão, que termina com a comunhão dos participantes. Finalmente a Benção e a despedida do povo.

Em todos estes momentos há possibilidades imensas de valorizar, despertar e solicitar o sentido da visão. Todo o simbólico, gestual, objetos, vestes, cores, vão contribuindo para que nosso olhar mantenha-se saciado com a Celebração que experimentamos. Daí a importância de preparar com carinho cada momento. Cuidar da beleza, da limpeza e do modo como vai acontecendo a celebração. Não se pode improvisar nada. Há que se preparar tudo e deixar que o Espírito Santo aja, tornando nossa Celebração ainda mais bonita. Ninguém jamais viu a Deus. Mas algumas pessoas viram o seu Filho, Jesus Cristo. E Jesus nos deu o Espírito Santo, que nós não vemos mas sentimos a sua ação em nós. Ninguém vê a alegria, mas percebe quando alguém está alegre, assim mesmo quando alguém está triste. Pois é, nossas Celebrações devem proporcionar momentos de intensa experiência do olhar.

Em pequenos grupos, devemos proporcionar Celebrações que valorizem mais o olhar. Já percebeu que dificuldade que as pessoas têm de olhar no olho umas das outras? Até mesmo entre jovens, esta dinâmica nem sempre funciona. Num encontro com jovens noviços e noviças, candidatos a padres e irmãs, alguém propôs um momento celebrativo em que cada um devia olhar para o outro. Que dificuldade. Alguns começaram a conversar. Outros não conseguiam encarar o companheiro, a companheira, cara a cara. Dizem que nosso olho é a janela do nosso coração. Por quê insistimos em manter fechada nossa janela?

 

Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.

eliomar@jesuitas.org.br

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