sexta-feira, 25 de março de 2011

CELEBRAR: PASSAR DO INDIVIDUALISMO À COMUNIDADE - Eliomar Ribeiro

 
Todos já ouvimos aquele ditado que diz: “uma andorinha só não faz verão”. O nosso grande irmão Dom Hélder Câmara costumava dizer, a propósito deste adágio que “a andorinha sozinha não faz, mas principia o verão”. Assim é o que aconteceu com Jesus. Ele, na sua época, apareceu como uma andorinha que voava diferente das outras. Suas idéias desafinavam com a música que era tocada pelos manipuladores do seu povo. E Jesus, com ousadia e coragem, iniciou um jeito novo de vivermos a fé em Deus.
Para Jesus e seus seguidores a fé implica a própria vida no seu relacionamento com Deus. Eu não posso dizer que tenho fé se vivo desconectado dos problemas que me cercam e, de vez em quando, alivio a minha consciência numa celebração da Igreja.
Por que celebramos? Para renovar a fé e para reafirmarmos nossa relação com Deus. A palavra celebrar significa fazer ação de graças, agradecer por tudo o que acontece na vida dos seres humanos e no cosmos. Celebrar é parte integrante da vida humana. Cada um de nós sente necessidade de juntar-se a outras pessoas para comemorar, fazer festa, conversar, louvar, suplicar. Quem não se alegra com a recordação do dia em que nasceu? Um cartão recebido, um presente, uma flor, um alô, uma mensagem sempre alegra o coração da gente. Precisamos celebrar porque nossos sentimentos mais profundos não se contentam em ficar presos dentro de nós. Eles querem “sair pra fora”, de qualquer jeito.
A celebração cristã, também chamada de liturgia, é o memorial que fazemos da ação de Cristo em nossas vidas e na vida do mundo. É Cristo mesmo que vem ao encontro da assembléia reunida, na força do Espírito Santo, para a grande adoração ao Pai. Na verdade, o que Ele faz é a intercomunhão solidária das pessoas divinas. E assim, nos ensina que não dá pra celebrar sozinho. Quem celebra, o faz sempre com outros. Ninguém faz festa sem a presença dos convidados!
Hoje, muita gente corre o risco de querer fazer festa sozinho. São muitas as pessoas que procuram a Igreja só para batizar, casar e celebrar missa pelo parente falecido. Não há uma pertença participativa. A Igreja torna-se como que uma loja onde eu entro para comprar o produto que me interessa e quando me interessa. Ainda não se compreendeu bem o que é a fé e a importância de vivê-la numa comunidade que acredita. Num mundo cada vez mais globalizado, corremos o sério risco de privatizar também a fé. O que dizer dos milhares de jovens que buscam o sacramento da crisma apenas como um “amuleto” a mais para a salvação!?
Cada pessoa que acredita é chamada a passar da fé individualista para a vivência da fé numa comunidade de seguidores. Imagine se todos os jovens que trabalham ou estudam, que estão nos grupos de jovens e nas diversas pastorais, nos sindicatos, também os desempregados, encontrassem tempo para celebrar a vida com maior qualidade. Não queremos que o jovem seja passivo, aceite as celebrações enferrujadas que costumamos encontrar em muitas comunidades. O jovem é o sonho de Deus! Ele pensa a novidade e sua criatividade deve ser colocada a serviço da vida, da esperança e da celebração da fé.
Para que a vida humana seja completa ela precisa ser celebrada. A espiritualidade que anima nossa vida de jovens é justamente a força transformadora de Cristo que vai atuando em nosso ser como água de chuva que encharca a terra. O Espírito de Jesus vai derramando-se por cada canto de nosso corpo e restaurando nossas dores, angústias, sofrimentos, carências... pela Palavra de Deus que acolhemos e meditamos para vivê-la. Na celebração damos conta de que esta ação acontece ainda mais quando nos reunimos em nome do Senhor, para fazer o que ele fez no último encontro com seus amigos e nos deixou como memorial de sua entrega total na cruz. O Senhor ressuscitado é o Cristo crucificado, razão de nossa esperança!
Nem sempre conseguimos expressar em nossas celebrações as várias dimensões da nossa vida. Somos marcados por uma catequese do sofrimento, onde tudo é pecado e proibido e nos esquecemos de todo o positivo que impulsiona e sustenta nossa ação neste mundo. Queremos como jovens “inventar o novo” nas celebrações, entre nós e com o nosso povo.
Sonhamos com o dia em que todos vamos celebrar e fazer festa pra Deus a partir de nossas culturas, com nossos ritmos e danças, expressões e gestos que brotam de um coração que ama plenamente. Só assim é que vislumbraremos já o Reino tão desejado e proposto por Jesus Cristo e que buscamos construir diariamente na ternura do nosso Deus libertador que nos quer sem medo e felizes.

Eliomar Ribeiro, é padre jesuíta, capixaba, escritor, poeta, compositor e quando escreveu este artigo vivia em Roma onde preparava o Mestrado em Teologia com especialização em Juventude.

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