sexta-feira, 25 de março de 2011

A ORGANIZAÇÃO NÃO É NEUTRA - Pe. Jorge Boran

 
Temos uma tendência para pensar em estruturas de coordenação como algo neutro e burocrático e nos esquecemos que o próprio modelo de organização que escolhemos é espelho e experiência do modelo de igreja e de sociedade que se quer construir.

Cada organização tem uma maneira de gerar participação. Uma organização hierárquica e autoritária forma elementos passivos, reforçando um modelo de Igreja clerical e um modelo de sociedade em que elites sem escrúpulos possam explorar e viver às custas dos mais pobres. Por outro lado, uma organização que gera comunhão e participação forma líderes com consciência crítica e contribui para formar uma igreja ministerial e comunitária bem como uma sociedade mais democrática e justa. As estruturas de coordenação que escolhemos são meios pedagógicos poderosos para formar mentalidades e atitudes.
Temos que definir para que queremos nossa organização. Ela deve ser diferente de uma empresa ou de um partido político onde líderes fortes manipulam tudo de cima para baixo. A espiritualidade imprime um espírito diferente na organização. O modelo de organização que adotamos é uma maneira de viver a Igreja, de construir o reino. Trata-se de ferramenta poderosa para iniciar novas relações em que o amor de Deus não é mais uma doutrina abstrata. São relações diferentes das relações freqüentemente encontradas na sociedade, onde domina o ciúme, a competição, a manipulação e a exploração. São relações onde domina a gratuidade, a fraternidade e a consciência de que o outro não é um inimigo mas, sim, um templo do Espírito de Deus. As estruturas de coordenação devem expressar uma espiritualidade e uma maneira de viver o Evangelho. A organização possibilita o trabalho em conjunto, o diálogo permanente, o sentir com o outro, o compartilhar as dificuldades pessoais, contribuindo para o crescimento permanente. Fomos criados para parar de crescer somente no momento em que seremos colocados no caixão.
A organização não só deve propiciar um espaço de reflexão, de convivência e de crescimento de conteúdos mas, também, de agir com mais eficácia. Equilibrar em cada situação ou estágio de crescimento as exigências da democracia interna com eficiência, superando assim o espontaneismo, o imediatismo e a falta de continuidade.
A organização não existe para si mas para a missão. Trata-se de uma missão recebida do próprio Deus. Deve gerar e acompanhar sistematicamente processos de conversão e de compromisso. Integra a fé e a ação: a ação que vai passando da ação assistencial, para a ação promocional, para a ação libertadora. Esta organização deve ter uma dimensão profética. Ela não existe para manter o 'status quo', para manter privilégios e cargos para alguns - mas para gerar mudança, para lutar pela justiça, para avançar a causa dos empobrecidos, os preferidos de Deus.
Há, porém, líderes com discurso de comunhão e participação mas que, na prática, centralizam tudo na sua pessoa. Promovem um modelo de organização vertical em que eles mesmos são sempre as estrelas. Uma autêntica espiritualidade nos empurra para fazer uma opção entre "ser estrela" ou "servir", entre buscar somente nossos próprios interesses e o desejo de fazer crescer a comunidade, entre "ter nos banquetes os primeiros lugares, nas sinagogas as primeiras cadeiras" e "o que entre vós for o maior, será vosso servo". (Mt 23,6-12). O verdadeiro líder promove processos de formação e engajamento de jovens que são protagonistas. Quer que os jovens sejam jogadores dentro do campo e não meros espectadores. Sua meta é formar líderes que serão agentes multiplicadores.
Perguntas para trabalho em grupos 1. Quais são as idéias mais importantes para você neste texto? 2. Que modelo de organização queremos construir na PJ em nossa paróquia e diocese? Que passos devemos dar?
Pe. Jorge Boran

Nenhum comentário:

Postar um comentário