sexta-feira, 1 de abril de 2011

Condições indispensáveis à vivência da assessoria - Joilson José Costa

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Pastoral da Juventude – Arquidiocese de São Luís
Equipe Arquidiocesana de Assessores/as
Curso de Capacitação de Assessores/as Paroquiais
São José de Ribamar, 27 a 29 de Março de 2009.

Condições indispensáveis à vivência da assessoria.
Joilson José Costa¹
Este breve texto destina-se a refletir algumas condições que julgamos ser indispensáveis à vivência mais qualificada do ministério da assessoria na Pastoral da Juventude. Não pretendemos aprofundar o mérito de cada uma, mas apenas apresentá-las de forma sucinta a fim de subsidiar uma discussão a respeito. Importa dizer também que esta é uma visão muito pessoal, a partir de nossa própria caminhada na PJ, não configurando um consenso a respeito.

1. Projeto Pessoal de Vida equilibrado entre o sonho pessoal e o sonho coletivo.
Consideramos este o ponto de partida: um bom Projeto Pessoal de Vida. Todos/as nós desejamos o melhor para nós mesmos, temos nossos sonhos pessoais: ser médico/a, enfermeiro/a, militar, engenheiro/a, professor/a..., conseguir um bom emprego, comprar nossa casa, nosso carro, dar o mínimo de conforto para nossa família...
Para realizarmos nossos sonhos é preciso que os tenhamos como nossa meta, e a partir daí nos projetemos em direção a eles. Mesmo que inconscientemente boa parte das pessoas cultiva um projeto de vida, claro que não da mesma maneira, mas constituindo-se em algo que as motive a caminharem rumo ao seu sonho.
Porém, não basta apenas nosso sonho pessoal! É necessário cultivar e lutar pelo que deveria ser o maior sonho coletivo da humanidade: o Reino de Deus. É isto que quer dizer o mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22, 39). Não basta que eu deseje o bem apenas para mim. É preciso, aliás, é praticamente imperativo que eu o deseje a todas as pessoas.
O pecado acontece quando pensamos apenas em nós e deixamos de nos importar com os outros/as. Assim surge o individualismo, o egoísmo, a competição, o acúmulo e todos/as os outros males do mundo. A partir do momento em que amo o meu próximo como a mim mesmo, me torno incapaz de fazer o mal.
Não tem jeito, para sermos verdadeiros/as cristãos é condição sine qua non, ou seja, indispensável, cultivarmos o sonho coletivo da Civilização do Amor. E é necessário que estejamos convencidos de que precisamos fazer o Reino acontecer aqui, através de sua antecipação histórica, através de uma Sociedade Nova.
Todo projeto de vida cristão então, deve equilibrar o sonho pessoal com o sonho coletivo e a Pastoral da Juventude é uma das pastorais que tem uma das mais belas sistematizações de como realizar este equilíbrio, que pode ser difícil mas não é impossível, senão Jesus não o teria proposto para nós.
2. Opção preferencial pelos/as jovens.
Esta é uma condição indispensável para o trabalho de assessoria e que deriva diretamente da primeira condição, pois no projeto de vida fazemos nossas grandes opções. A primeira deve ser por Jesus Cristo e seu Projeto. Todas as outras opções devem derivar daqui.
Sabemos que há muito trabalho a se fazer, há muitas instâncias, pastorais, serviços e ministérios na nossa Igreja, mas infelizmente não conseguimos dar passos maiores que nossas pernas, a ciência ainda não permite que estejamos fisicamente em dois lugares ao mesmo tempo. Então, temos que fazer opção, temos que ter claro qual é a nossa preferência no trabalho pastoral.
A nossa opção preferencial pela juventude (principalmente pela juventude mais pobre) nos leva a assumir três outras condições indispensáveis: a gratuidade, a doação e o compromisso.
  • Gratuidade.
Ninguém enriquece “fazendo” Pastoral da Juventude, a maioria não recebe absolutamente nenhum tipo de apoio financeiro. Sabemos que fazemos é gastar, ou seja, pagamos para fazer pastoral. Mas não nos arrependemos! Justamente por acreditar no que fazemos, por termos feito a opção de estarmos na pastoral.
Porém, a nossa gratuidade não é apenas financeira, mas também presencial. Acompanhamos os/as jovens simplesmente porque os/as amamos, e nada mais. O nosso relacionamento deve sempre se dá na base da gratuidade, ajudar sem a intenção de ser ajudado.
  • Doação.
Acontece a partir da convicção pessoal no seguimento de Jesus Cristo e se traduz justamente na gratuidade e no compromisso do serviço aos/às jovens, fortalecendo estes dois aspectos mesmo com todas as dificuldades pessoais por quais passamos.
  • Compromisso.
Além do necessário encontro pessoal com Cristo, acredito que na PJ uma consciente e autêntica opção preferencial pela juventude é o que nos mantém compromissados com a caminhada de luta rumo ao Reino. O compromisso com a construção do Reino é uma necessidade urgente. E uma das formas de contribuirmos nessa construção é através de nosso compromisso junto à juventude. Aqui é o momento de discernir e assumir o significado do chamado de Jesus: “Se alguém quer me seguir, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (Lc 9,23).
3. Cuidado com a formação pessoal.
Não tenho nenhuma dúvida de que esta é uma condição indispensável para um correto exercício do ministério da assessoria. Não se trata de “saber mais” do que os/as jovens no sentido pejorativo. Trata-se de ter um carinho e um cuidado especial com esta dimensão do ministério. Querendo ou não os/as jovens vêm aos/às assessores/as com a intenção de obter respostas a diversas perguntas das quais talvez ainda não saibam ou não tenham certeza da resposta: o que é mesmo a PJ? O que é e como acontece esse tal de processo de educação na fé? Como funciona o método Ver-Julgar-Agir? O que é mística? Qual é a mística da PJ?...Isso para ficar apenas no campo pastoral.
Não se trata de ter respostas decoradas, mas de ajudar o/a jovem a entender a partir de nossa experiência e formação pessoal, que deve ser integral (em todas as dimensões), sistemática (bem pensada e organizada), progressiva (buscar sempre mais) e específica² (enfatizada a partir da necessidade concreta). Atrevo-me a elencar alguns temas que julgo indispensáveis neste processo de formação: Missão, História e Opções Pedagógicas e Metodológicas da PJ, Bíblia, Liturgia, Análise de Conjuntura, Cultura e Realidade Juvenil, Planejamento Pastoral e, conjunturalmente, o Documento 85 da CNBB.
Uma sólida formação possibilita ao assessor/a ter uma visão de conjunto sobre a caminhada da Pastoral e não se perder em “imediatices”, possibilita mediar melhor os conflitos que surgirem, possibilita manter um diálogo consistente com os/as jovens, clero, comunidades... Sinceramente não consigo conceber um bom assessor/a de PJ que não cuida de sua formação pessoal, que não gosta de ler ou não investe alguns reais em livros sobre a PJ, sobre a Igreja, sobre a juventude, sobre o mundo... Parafraseando o pe. Hilário Dick, triste o/a assessor/a que se considera “formado”.
4. Cuidado com a espiritualidade e a mística pessoais.

Aqui não há nem o que discutir, é isso e pronto! Se falamos de um/a assessor/a de uma pastoral de uma Igreja (e não de uma instituição ou empresa qualquer) necessariamente esta pessoa deve cuidar de sua relação com o sagrado, com o “Pai que está no céu” (cf. Mt 10, 32). Deve cultivar uma autêntica espiritualidade cristã e ser uma pessoa mística. E para isso acredito que cada um/a deve descobrir seu itinerário de fé, porém, uma boa pista é tentar cultivar as características da espiritualidade da PJ (cristocêntrica; mariana; comunitária e eclesial; leiga e missionária; encarnada e libertadora; orante e celebrativa³) e utilizar os principais “métodos” disponíveis, que são a Leitura Orante da Bíblia e o Ofício Divino da Juventude. Aqui um bom exemplo, entre tantos outros, nos vem do apóstolo Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é o Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
5. Atualização constante.

Triste do/a assessor/a que não tem uma “boa notícia” para anunciar aos/às jovens sedentos/as por novidade. Como deve ser desconcertante, ao ouvir a pergunta: “O que há de novo na PJ?”, ter um “nada” como resposta. Será que de fato a PJ fica sem novidade alguma ou nós é que não estamos “por dentro”, estamos desatualizados/as?
Considero importante a atualização constante não apenas das “informações” do que acontece na PJ, mas também no que diz respeito à formação. Buscar sempre o que se discute de novo sobre determinado assunto não apenas para se reciclar, mas para oferecer aos/às jovens sempre novas reflexões.
6. Maturidade, caminhada e experiência pastoral.

A maturidade está relacionada muito ao plano pessoal enquanto que a caminhada e a experiência aqui dizem respeito a um trabalho junto à juventude. Tratamos dos três aspectos ao mesmo tempo por acreditar que os mesmos estão inter-relacionados. Até a algum tempo atrás (e ainda em muitos lugares) se associava muito a questão da assessoria com a fase adulta da vida. Porém, é fato que floresce cada vez mais a experiência do “assessor jovem”, alguém que ainda não é adulto, mas que já deve ter certa maturidade. Não é mais um jovem apenas, muito menos um adolescente. No processo de maturidade humana, que sabemos que psicologicamente é constante, o/a assessor/a deve estar mais “longe” do que o/a jovem. Já deve ter caminhado mais.
A experiência do assessor jovem relativiza a questão da idade, mas não a da maturidade, da caminhada e da experiência pastoral. Não dá pra assessorar jovens se não sabemos sequer administrar nossos próprios conflitos.
Ao mesmo tempo, desconheço experiências de pessoas que “partiram do zero” na caminhada da assessoria. A maioria já vinha de uma boa caminhada e experiência em grupos de jovens, coordenações, catequese...
7. Coerência e testemunho.
Eis aqui uma das condições mais requeridas de alguém que pretenda ser assessor/a de jovens. Acredito que anunciar o Evangelho é muito do que apenas falar de Jesus. Trata-se de testemunhar as suas ações através de nossas ações, assumir o exemplo de Cristo e transformá-lo em nosso próprio modelo de vida e, a partir daí, ser um testemunho vivo do Mestre para a juventude. Apresentá-lo como “o caminho, a verdade e a vida” (cf. Jo 14,6) através de nossa própria vida.
Eis o grande desafio: manter a coerência entre o que falamos e o que fazemos! A juventude percebe com muita facilidade a incoerência e com certeza esta é um dos piores exemplos que temos hoje no mundo: há incoerências na política, no governo, na economia, na escola, na Igreja, em casa... Todos/as somos pecadores/as, mas também todos/as somos chamados/as à perfeição (cf. Mt 5, 48) e a busca da perfeição acontece quando procuramos ser o mais coerente possível com o projeto do Pai que está no céu. O melhor testemunho continua sendo a nossa fé manifestada em ações.
Concluindo.
Lógico que há muitas outras condições para uma correta e qualitativa vivência da assessoria, mas como dissemos no início, estas são apenas algumas que, particularmente, julgamos indispensáveis apresentar neste texto. Relacionado com a formação, a PJ possui vários subsídios que tratam especificamente sobre a assessoria escritos por militantes de peso na causa da juventude como Jorge Boran, Hilário Dick, Vilson Basso, Carmem Lúcia Teixeira... Acredito que uma completa descrição de tais condições passaria por uma sistematização de tudo o que foi e continua sendo escrito por esses companheiros. Enquanto não temos tal sistematização o caminho é “devorar” seus escritos, testá-los, complementá-los e enriquecê-los com a nossa experiência no dia-a-dia da missão junto aos/às jovens.
Que assim seja em prol da juventude e do Reino da Vida!
São Luís, (MA), 24 de março de 2009.
29 anos do martírio de Dom Oscar Romero.

“Levante-se, pegue sua cama e ande” (Jo, 5, 8).
_____________________________
¹ Membro da Equipe Arquidiocesana de Assessores/as da PJ – São Luís/MA.
² BORAN, Jorge. O futuro tem nome: Juventude. Sugestões práticas para trabalhar com jovens. 3. ed. São Paulo: Paulinas: 2003.
³ PASTORAL DA JUVENTUDE NACIONAL. Por uma Pastoral da Juventude pé no chão.
O Ministério da Assessoria
Uma das opções pedagógicas da PJ do Brasil é a afirmação do valor e da necessidade da assessoria e do acompanhamento. O jovem caminha junto com o assessor quando o assessor sabe assumir sua identidade(1).
A palavra “assessor” vem do latim “sedere ad”, que significa “sentar-se junto a”. Dá a idéia de motivar, acompanhar, orientar e integrar a contribuição e a participação dos jovens na Igreja e na sociedade e propiciar a acolhida desta ação juvenil na comunidade(2).
Segundo Hilário Dick, “A ‘assessoria’ tem um significado polissêmico. Significa várias coisas. É-se assessor(a) de grupo, é-se assessor(a) de vários grupos da comunidade, é-se assessor(a) em nível de diocese, etc. Mais ainda: há assessores(as) que trabalham com estudantes, outros(as) com gente pobre de vila, outros(as) com grupos mais do centro, outros(as) com jovens da roça, outros(as) com universitários. É-se o mesmo de diferentes formas. E, contudo, não podemos ser ‘especialistas’ em tudo (...) somos assessores(as) de uma realidade que precisar ser a expressão do Reino, no jeito e na realidade.
O assessor da Pastoral da Juventude, em geral, é uma pessoa cristã madura, chamada por Deus para exercer o ministério de acompanhar, em nome da Igreja:
- Os Processos de Educação na Fé dos jovens (tanto grupais, como pessoais), disposto a servir os jovens com sua experiência e conhecimento, desejoso de compartilhar com eles sua descoberta de Cristo e vivência do Evangelho no seu seguimento(3).
- Ajuda o jovem a definir o seu Projeto de Vida, segundo o Projeto de Jesus Cristo(4).
- É educador na fé, pelo testemunho de coerência e pela explicitação do anúncio do Senhor Jesus(5).
A assessoria como ministério de serviço aos jovens só pode ser exercida por quem fez uma opção pessoal, recebeu o envio por parte da Igreja e conta com a aceitação dos próprios jovens. Pode-se ainda dizer que o serviço aos jovens deve ser uma “causa”. Uma “causa” que acompanha sempre, que incomoda, que alegra, que desafia, que faz crescer. Não é um ministério exclusivo do sacerdote ou religioso. Em todos os níveis e experiências das Pastorais da Juventude, cresce cada dia mais o reconhecimento de que é, também, e fundamentalmente um ministério do leigo(6).
Cabe ao assessor despertar lideranças; proporcionar apoio necessário para que os jovens possam desenvolver um processo gradual de formação integral na fé, promovendo e respeitando seu protagonismo; ser pólo desafiador e de confronto, evitando paternalismo e autoritarismo e auxiliar os jovens nos momentos de desânimo e conflitos. Para isto necessita ter amplo conhecimento da juventude e de sua realidade, em todos os níveis e aspectos e saber mais escutar do que falar(7).
Atualmente se incentiva a organização de comissões de assessores incluindo padres, religiosos(as), leigos e leigas adultos, jovens-adultos. Estas comissões são espaços de apoio afetivo, troca de experiências, revisão de vida, oração e elaboração de estratégias para melhorar o serviço de acompanhamento.
E sem dúvida a grande urgência para nós e a formação de novos assessores, possibilitando a renovação periódica daqueles que acompanham a evangelização da juventude.
1.Identidade da Assessoria(8)
a) Identidade bíblica, teológica e pastoral da Assessoria
Quando se fala de “ministério”, falamos de vocação. O assessor é, antes de tudo, um vocacionado, isto é, uma pessoa chamada por Deus para cumprir uma missão na Igreja. Não é um título, nem um cargo, nem uma função, mas um serviço. Como também não é um chamado para si mesmo, mas para ser um serviço aos demais.
O assessor é chamado a ser pastor, profeta e sacerdote no meio dos jovens. O modelo inspirador é João Batista, que anunciou a vinda de alguém muito mais importante do que ele. “É importante que ele cresça e eu diminua”(9). O assessor é capaz de dar lugar ao jovem, para que ele cresça no seu protagonismo.
O assessor é pessoa de Deus: pessoa de oração e testemunho, que fala a partir da profundidade e da experiência de sua vida e não a partir da teoria e das coisas aprendidas. Vai crescendo, vivendo e amadurecendo com os jovens e fazendo-se assessor a partir do próprio grupo.
É pessoa que conhece, ama e serve a Igreja. Faz comunidade com os jovens e os ajuda a que sintam a Igreja como uma comunidade. Preocupa-se por conhecer e seguir as linhas pastorais e as orientações da Igreja local em que está trabalhando, da Pastoral da Juventude da sua comunidade, regional, nacional e latino-americana.
É pessoa enviada a todos os jovens; a olhar não só os jovens em seu conjunto, mas na diversidade de situações em que vivem, seja pelas atividades que realizam, seja por suas culturas próprias, seja pelas situações que condicionam suas vidas.
b) Identidade espiritual da assessoria
O assessor é pessoa de fé, manifestada na vivência de uma espiritualidade. Para o cristão, a espiritualidade é a relação pessoal com o Pai, com Jesus Cristo e com o Espírito Santo, a partir da vivência do Evangelho e a partir da confrontação com a realidade.
O assessor da PJB concretiza sua espiritualidade na opção pelos jovens. Esta opção é resposta ao Deus Pai que fixou seu olhar na juventude e pede ao assessor que se entregue a eles; é reconhecer o amor de Deus por esses jovens, é participar do amor com que Deus ama os jovens e ter a experiência do encontro com Jesus no meio delas, por obra do Espírito Santo.
O assessor é pessoa que já clareou seu projeto de vida cristã, passou por processo de discernimento vocacional e luta por ser fiel ao chamado que Deus lhe fez. É coerente com sua opção, procura integrar sua fé e sua vida ao ministério que a comunidade e a realidade lhe confiaram: por isso sua espiritualidade está encarnada na vida e na proposta de Jesus, na vida dos jovens, nas circunstâncias e acontecimentos sociais que vai enfrentando. O assessor sente, por isso, a necessidade de celebrar, partilhar, vivenciar a sua fé e seu trabalho junto com o jovem.
c) Identidade pedagógica da assessoria
O assessor é educador que age de acordo com a própria pedagogia de Deus e tem como modelo Jesus Cristo. Como ele, tem uma proposta clara e concreta para os jovens, mas não a impõe, e sim a propõe. Como Deus com seu povo, o assessor faz aliança com o jovem, escuta seu clamor, caminha com ele, dá-lhe sua vida e deixa que vá fazendo seu caminho com liberdade.
Educa acompanhando os jovens na busca e na definição de seu estilo de vida, colaborando principalmente com o testemunho de sua própria vida. É educador a partir da vida e para a vida; tem uma teoria e uma prática novas. Acompanha os processos pessoais e grupais integrando ação e reflexão, convivência e oração, tudo numa proposta de mudança. Promove um trabalho planejado e integrado na pastoral de conjunto e nas demais instancias de coordenação, em todos os níveis. Dá um sentido novo ao grupo e às pessoas, promove o protagonismo através da metodologia do ver-julgar-agir-revisar e celebrar; desenvolve uma pedagogia experimental participativa e transformadora.
Reconhece o protagonismo dos jovens, mas expressa, por sua vez, a consciência de que necessitam de vínculos estreitos e eficazes com as comunidades cristãs e em geral com o mundo adulto, que condiciona os jovens e ao qual, por sua vez, são chamados para oferecer sua contribuição vital e criativa.
d) Identidade social da assessoria
O assessor é uma pessoa encarnada na realidade social e com um profundo sentido de pertença a esta realidade. Conhece e assume as esperanças e a dor de sua gente e de seu povo. Sente empatia com a realidade, especialmente com a do jovem. Procura identificar com sua situação concreta dos que acompanha. Chora com os que choram, ri com os que riem e sofre com os que sofrem; é pessoa profundamente misericordiosa.
É ator social. Não fica passivo ante a realidade, mas se sente chamado a transformá-la, denunciando os sinais de morte e anunciando os sinais de vida, fazendo opção pelos mais pobres e marginalizados.
É pessoa aberta e que respeita a pluralidade de critérios e ideologias. É protagonista na transformação de seu ambiente, o que exige que esteja de fato identificado com a realidade específica que lhe toca acompanhar.
É pessoa profundamente convencida da força dos jovens para a transformação da sociedade e para a construção do Reino.
Pe. Diogo Cassiano Maciel
ECA - Equipe Central de Assessoria
(1)Documento de Estudos nº 76, Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil, p. 195.
(2)Ibidem., p. 195.
(3)Cf. Documento de Estudos nº 76, Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil, p. 195 e Documento de Estudos nº 93, Evangelização da Juventude – desafios e perspectivas pastorais, p. 63.
(4)Documento de Estudos nº 93, Evangelização da Juventude – desafios e perspectivas pastorais, p. 63.
(5)Ibidem., p. 63.
(6)Cf. Hilário DICK, Cartas a Neotéfilo – conversas sobre assessoria para grupos de jovens, p.28 e In: Documento de Estudos nº 76, Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil, p. 196.
(7)Documento de Estudos nº 76, Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil, p. 196.
(8)Baseado in: Documento de Estudos nº 76, Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil, p. 196-200.
(9)Jo 3,30.
ETAPAS DE EDUCAÇÃO NA FÉ
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1 – GRUPO

O jovem precisa de uma unidade maior do que a família, mas não tão grande que se sinta apenas mais um número no meio da multidão (como, às vezes, acontece na paróquia). "O grupo proporciona ao jovem um ambiente de segurança e de valorização pessoal que faz menos dura sua inserção na sociedade e tem como resultado gratificante o fato de estar entre iguais". O grupo serve como ponto entre a família e um mundo que aparece, em muitos aspectos, como ameaçador.

2 -COMUNIDADE
Nesta etapa, trabalha-se a eclesiologia: o sentido de pertença à Igreja. Precisamos cultivar um sentido-de-pertença-à-Igreja da mesma maneira que pertencemos a uma família. Faz parte de nossa identidade de cristãos.
O jovem deu o primeiro passo ao sair do seu isolamento para entrar no grupo. No grupo aprendeu a se relacionar com os outros e a cultivar certos valores essenciais para o trabalho de equipe. O Evangelho e a pessoa de Jesus Cristo são entendidos e aceitos sob nova luz. Num ambiente de grande afetividade a fé é percebida como algo que ajuda a formar um quadro de referência para a nova identidade que se está construindo. A fé é percebida como dando um sentido para sua vida.
Agora o jovem dá outro passo. Rompe o círculo restrito do grupo e se abre para a realidade mais ampla da comunidade paroquial ou comunidade de base. Aqui a paróquia é a primeira referência para a maioria dos jovens. Não se trata do único lugar onde se pode evangelizar os jovens, mas continua sendo importante enquanto não há outras estruturas comunitárias que os acolham.
Os jovens mudam uma visão negativa da Igreja através do contato com uma experiência religiosa significativa mais do que através de estudo da teologia da Igreja. A vivência de comunidade possibilita uma visão mais ampla. Assim, na medida em que o jovem participa da missa, da vida da comunidade, das festas, dos cursos e matem contato com os adultos e lideranças, ele vai descobrindo uma dimensão agradável da Igreja: a Igreja como comunidade de pessoas que se querem bem. "A Igreja somos nós" é a expressão que melhor resume a consciência nesta etapa. A Igreja agora tornou-se algo significativo e atraente.

3- PROBLEMA SOCIAL
Um jovem entra num grupo. O grupo abre sua visão para os vários aspectos da vida de comunidade: um trabalho de equipe, maior conhecimento de si, capacidade de se relacionar com os outros, descoberta de um Cristo mais pessoal... Rompendo o círculo fechado do grupo de amigos, descobre a riqueza da comunidade eclesial mais ampla. Empolga-se com a descoberta de um modelo comunitário de Igreja que sintoniza com suas idéias. Mas agora o horizonte da comunidade local tornou-se limitado. É momento de esticar mais o círculo. Rompe-se o círculo da comunidade e descobre-se outro mundo, o mundo que o cerca, menos agradável: a realidade social.
4 –ORGANIZAÇÃO
Esta etapa ocorre quando os jovens vão além do seu grupo e comunidade e ampliam sua visão ao constatar que a juventude tem sua própria organização que é mais ampla do que seu grupo de base. Descobrem a "Pastoral da Juventude". Percebem que seu grupo não está isolado. Há muitos grupos caminhando na mesma direção, com os mesmos ideais. Percebem que a juventude organizada pode ser uma força importante dentro e fora da Igreja. A organização faz ampliar sua voz para que seja ouvida com mais atenção. Agora têm voz forte dentro da Igreja. O poder jovem foi canalizado para a transformação.
A consciência da importância desta etapa surge no momento em que o jovem participa de algum evento organizado pela pastoral. De novo é a primazia da experiência. Às vezes é eleito como representante do seu grupo na coordenação do setor pastoral ou da sua diocese; às vezes participa de um curso, retiro, encontro, evento de massa organizado pela PJ. Sabia antes da organização da pastoral, mas era algo abstrato, distante. Agora conhece gente que está à frente dessa organização e se empolga com as novas amizades e com o contato com jovens comprometidos.
5 – CAUSAS
Agora o jovem já tem condições de dar outro passo para abrir o horizonte da sua visão do mundo. Esta etapa chama a atenção para uma das importantes tarefas da Pastoral da Juventude: a conscientização sobre o mundo em que vivem. Esta, talvez, seja a etapa mais crítica, mais difícil, mais complexa.
Chamamos esta etapa de descoberta das causas estruturais. Uma palavra sobre estruturas. Estruturas são instituições e práticas criadas pelas pessoas e que orientam a vida econômica, social e política. "Em si necessárias, elas tendem, freqüentemente, a se fixarem e enrijecerem em mecanismos relativamente independentes da vontade humana, paralisando ou pervertendo assim o desenvolvimento social e gerando a injustiça. As estruturas exercem enorme influência sobre nós, mas também temos capacidade de mudá-las".
6 – MILITÂNCIA

Os jovens nesta etapa se abrem para mais uma dimensão da vida: a militância e o compromisso. É o momento de dizer sim ao chamado do Senhor: "Vem e Segue-me" (Mt 19, 21) e "Vão por todo o mundo, anunciem a Boa Notícia a toda criatura" (Mc 16, 16). Nas etapas anteriores do processo de formação os jovens assumiram também compromissos, porém, sem aquela constância e responsabilidade que caracteriza o militante. Há uma diferença importante aqui. As características dos jovens nas etapas anteriores foram de momentos de entusiasmo, ao assumir certos compromissos, seguidos por momentos de desânimo e irresponsabilidade. Falava-se muito do jovem como "Fogo de palha". Embora muitos estejam convencidos teoricamente da importância da ação, nas etapas iniciais, leva tempo para criar o hábito de engajamento permanente. Agora abraça a causa do reino. É perseverante. Quando assume alguma coisa vai até o fim. É líder. Passou da fase de fazer as coisas por embalo, porque os outros estão fazendo. Agora é uma opção de vida. Não quer mais ser um mero expectador. Resolve entrar no campo e vestir a camisa. É a nova visão do jovem Marcos, do Rio de Janeiro: "Não entendo um homem que passa por esta vida e não faz nada para modificar o lugar onde está". Em todos os lugares há jovens com esse nível de dedicação. É o resultado de um processo lento de formação!
O jovem normalmente entra na primeira etapa voltado para seu próprio mundo de interesses pessoais. Um militante lembrava: "Entrei no grupo por causa de futebol-de-salão. Antes não pensava em nada, não sabia o que era o mundo, vivia trancado em casa, só estudava e me divertia". Agora, está aberto para o mundo. Um psicólogo descreve esse processo do crescimento como uma "ampliação gradual mas progressiva do 'eu', para incorporar o mundo que está 'fora'". "Cresceu, esticou e diluiu as fronteiras do seu 'eu'. Neste sentido, quanto mais nos estendemos, mais amamos, mais se torna difusa a distinção entre o 'eu' e o mundo. Nós nos identificamos 'com o mundo'. E na medida em que as fronteiras de nosso 'eu' tornam-se difusas e diluídas, começamos a experimentar a mesma emoção de êxtase que sentimos quando as fronteiras de nosso 'eu' desmoronaram parcialmente e nos apaixonamos". O desafio é despertar mais jovens para chegar a esse nível de compromisso. Muitos desistem no caminho por falta de formação e acompanhamento sistemático. A formação supõe um longo processo e nunca poderá ser substituída por momentos mágicos de emoção e entusiasmo!

7 - ETAPAS PERCORRIDAS
Esta última etapa é a fase da maturidade pedagógica. Os jovens e assessores que chegam a esta etapa são mais realistas e menos vanguardistas. Têm capacidade para trabalhar com iniciantes, sem queimar etapas. Sabem distinguir entre a consciência-desejada e a consciência-possível. A pedagogia de etapas deixa clara a necessidade de respeitar a consciência possível dos jovens em cada estágio da sua vida. Não se pode fazer tudo numa reunião ou num curso. O processo de educação na fé é lento e diferente para cada jovem.
Muitos jovens, porém, que passam para a militância não conseguem dar este último passo. Eles mesmos passaram pelas etapas anteriores, mas não têm consciência disso. Não têm consciência com aqueles que estão pondo o pé no primeiro degrau da escada. Querem que os jovens iniciantes se comprometam num curto espaço de tempo. Usam uma terminologia sofisticada que os iniciantes não entendem. Nas palavras de um jovem: "Dão churrasco para nenê e acham que está tudo bem". São exigentes e impõem suas idéias. Falam de libertação, mas sua pedagogia é a dominação. O resultado é a desmobilização. Os grupos se afastam da coordenação. A incapacidade de chegar a essa etapa leva ao isolamento e à ineficácia.
A descoberta das etapas percorridas gera coordenações maduras com boa pedagogia.
Fonte: O Futuro tem nome: Juventude - Pe. Jorge Boran

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