sábado, 9 de abril de 2011

Afetividade e PJ: namorar ou ficar? – Anderson Alexandre


Eu acho muito interessante, escutar certas enquetes televisivas e ler matérias em revistas a respeito de comportamento das nossas juventudes. Juventudes no plural, porque hoje encontramos várias tribos, várias juventudes. Essas e todas as outras entrevistas que acompanho escondem como pano de fundo, a enorme ansiedade que o jovem tem de encontrar uma parceria afetiva. Como cenário principal dessas entrevistas são colocados os modismos, as gírias e os padrões tão comuns entre os jovens da maioria das cidades brasileiras, e mesmo com tanta liberdade, o jovem acaba não sendo feliz!

Recentemente fui convidado a falar sobre ficar, namorar e rolar, para um grupo de jovens, que se encontrava em retiro. Precisei pesquisar um pouco sobre o assunto, não em livros, mas com os jovens que convivem cada vez mais precocemente com esses assunto e, também com o pessoal da minha geração, que não é muito mais velha que a maioria dos jovens dos nossos grupos de jovens, mas que testemunhou as transformações com a juventude nos últimos anos.

O que pude observar dos relatos que fui colhendo? Bom, de uma década para cá, ficou estabelecido o FICAR entre os jovens. O que era um comportamento cultural exclusivo masculino, nesta época de profunda globalização passou a ser adotada pelo feminino como sua bandeira de liberdade. As meninas ficam. A maioria das meninas fica. Quem não fica é careta, ultrapassada, desatualizada, está por fora...! Os meninos, mais pela falta de educação e condicionamento cultural, já tinham que ficar: precisavam provar que eram machos, através de várias conquistas que confirmariam suas virilidades, e o ficar, de maneira geral era um comportamento tradicional do masculino. Muitos da minha época, vão dizer que surge a geração "Barrados no Baile", em referência a um seriado cultuado por vários dos jovens adultos de hoje, e que inspirou outros programas, como "Confissões de Adolescente", "Malhação", dentre outros.

Certa vez, com uma classe que trabalhei, eu tive contato com uma jovem que em uma determinada festa, bateu o recorde da turma e isto lhe era motivo de orgulho: ficou com 14 meninos, beijou na boca, apalpou e foi apalpada por cada um deles e tudo isso na mesma noite. Talvez, por 14 vezes, ela sentiu algum tesão, ou fez alguém sentir tesão por ela. Depois do relato passei a pensar que os 14 meninos, deveriam estar relacionados aos seus anos de vida, pois ela tinha na época 14 anos (?). O que para mim e para alguns de vocês pode até soar como um espanto, para ela e outras amigas era como faturar um grande prêmio! Por que isso é cada vez mais comum com os nossos jovens? Porque é a liberdade, é o mundo da globalização. É o mundo do EU SOZINHO e do VOCÊ DESCARTÁVEL.

Quem pratica o ficar com intensidade, por mais parceiros que tenham no ficar, sempre estará só. O ficar não estabelece relação. Relação é a única coisa que nos dá segurança, constrói e ajuda no crescimento e desenvolvimento de nossas competências humanas.
Depois de pronta a minha pesquisa, fui lá no retiro para fazer a palestra, e acabei por fazer uma dinâmica, onde o tema era NAMORAR, FICAR OU ROLAR? Como foi feita a dinâmica? Durante uma breve apresentação, eles teriam que dizer se estavam sós, namorando, ficando ou enrolando. Foi por demais interessante o que a gente sempre aprende com os nossos jovens. Só situando os mais desinformados: o ROLAR é um ficar mais refinado; fica-se, vai se ficando, ficando... mas só ficando.

Depois da apresentação e de uma breve exposição sobre o tema, dividimos novamente o grupo em 4 mini-grupos, onde eles fariam um júri simulado em poucos minutos. Um grupo seria os advogados de defesa do ficar. Outro grupo, os advogados de acusação do ficar. Um terceiro grupo seria o júri, promotoria e juiz. O último grupo era o das testemunhas que os advogados iriam utilizar.

Os jovens incorporaram o debate com veemência e passaram a defender suas idéias grupais. Após cerca de 40 minutos de debate, onde o tribunal foi contra o ficar, foi aberto para que eles falassem os sentimentos que rolaram durante a dinâmica. No princípio, notei que as meninas em sua maioria defendiam o namorar e os meninos em sua maioria o ficar. No final pôde-se perceber que a grande totalidade acabou percebendo dizendo que de fato gostariam de namorar, mas estava muito difícil.

Na minha pesquisa informal para falar sobre esse tema, fiz alguns bate-papos com os mais jovens, e eles foram expondo os motivos das dificuldades de se ter um namoro. Foi por demais interessante a conclusão: os jovens, muitas vezes, não namoravam por insegurança e medo. As meninas falavam que não namoravam, pois os meninos de maneira geral eram "uns galinhas", "namoram a gente mais saem com outras" e elas não confiavam neles por não quererem ser chifradas. E os meninos falavam que não namoravam por não confiarem nas meninas, acreditando que "não namorar para não ser chifrados, pois hoje as meninas põem chifres a toda hora".

Esta amostra de um grupo de jovens que se reúne semanalmente e muitos são amigos de todo o dia, e a amostra que tive acesso de outros jovens, que tem sentimentos e desejos muito semelhantes aos já citados, me levaram a pensar numa coisa importante: o jovem não tem vivido sua paixão como eu e nossa geração viveu em nosso tempo de jovem. Eles são muito mais livres, muito mais informados, mas estão presos num padrão doloroso da mudança de comportamento do feminino. A mulher diz e faz o que quer e isso assustou o homem que não acompanhou este processo de mudança. Também falo isso por experiência própria.

Se você puder olhar friamente as juventude, vai notar algumas coisas que observei. A jovem que não tinha o modelo da liberdade, incorporou o modelo masculino que inibe muito o jovem que não sabe em muitas ocasiões lidar com esta nova postura feminina. A jovem que tenta expressar toda a competência da nova liberdade, do prazer de escolher e decidir o que fazer com sua vida, corpo e sexualidade, não tem sabido como se utilizar desta liberdade. De maneira geral a menina caiu na mesma fórmula medíocre que o menino já mantinha de há muito tempo e não sobra espaço para se praticar o encontro, a troca, o olho no olho, o afeto, o compromisso de estar com alguém, o sabor do gostoso beijo roubado (isso me lembra um xote legal) ou ter alguém para se voltar ou procurar.

Indo mais fundo nas minhas conclusões, creio que os jovens não têm aprendido a amar, pois não praticam o desenvolvimento para o ato de amar, que é o namoro. Ficar pode até ser uma evolução e uma nova maneira de se praticar nossa liberdade e expressão de nossa sexualidade, mas até agora o que tenho aprendido com quem pratica esse ficar com intensidade, é que ele não tem trazido a esperada felicidade, pois a felicidade depende da continuação de um processo, da segurança que uma relação promove, até atingir o tão esperado amor.

Ah, o amor... Será que o jovem de hoje sabe o que isso significa? Será que o excesso de liberdade que nossa geração recebeu é de fato um ato de amor, ou nós jovens estamos presos nas teias do desamor? O ficar, será um processo do amor ou do desamor? Como ficamos nós da Pastoral da Juventude nesse novo contexto? Adotamos esse novo estilo de vida ou assumimos uma outra proposta? Pergunto isso, pois fico preocupado porque muitos dos nossos companheiros de caminhada praticam esse ficar. Creio que seja necessária nossa reflexão, para aprendermos a conviver com este caminho e até criar um atalho novo para que ele complete o que todos nós buscamos: SER FELIZ!

Até mais.
Anderson Alexandre

Um comentário:

  1. gostei muito do conteúdo: era exatamente oque estava procurando, com certeza vou usar no meu grupo de base!

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