quarta-feira, 30 de abril de 2008

O frio que vem de dentro

Quatro homens ficaram presos numa caverna por uma avalanche de neve.

Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro.

Cada um trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam.

Se o fogo apagasse, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse.

Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira.

Era a única maneira de poderem sobreviver.
O primeiro homem era um rico avarento.
Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida.
Olhou ao redor e viu um círculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude e nas roupas remendadas.
Fez as contas do valor da sua lenha e enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou:

"Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso?"

O segundo homem era negro.
Seus olhos eram puro ressentimento.
Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava.
Seu pensamento era muito prático:
"É bem provável que eu precise desta lenha para me defender.
Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem".

E guardou suas lenhas.
O terceiro homem era o pobre da montanha.
Conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve.
Ele pensou:
"Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha."

O último homem trazia no rosto e nas mãos os sinais de uma vida de trabalho.
Seu raciocínio era curto e rápido:
"Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos meus gravetos."

Com estes pensamentos, os homens permaneceram imóveis.
A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou.
Ao alvorecer, quando os homens do socorro chegaram à caverna encontraram os cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha.

Olhando para aquele triste quadro, o chefe da equipe disse:
- O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro.

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