Uma pastoral da juventude realizada e conduzida pelos próprios jovens, através de grupos, é o ideal para a ação da Igreja. Mas o jovem urbano, de classe média-alta, caracteristicamente individualista, consumista, encontra dificuldades para aceitar este tipo de trabalho pastoral. Por que isto? Como se caracteriza o jovem urbano, de classe média-alta?
Os jovens que nasceram e se criaram nos centros das cidades ou nos bairros de gente abastada, possuem uma série de características próprias, que procuraremos descrever neste artigo.
Aspirações e lazer
Eles anseiam profundamente por um lugar ao sol. Assumem os valores que a sociedade de consumo lhes impõe. Muito visados por esta sociedade, são as primeiras vítimas do consumismo devorador. Rejeitam essa imposição, mas não conseguem superá-la e acabam usufruindo os privilégios. Alimentam o desejo de possuir, de fazer viagens, de realizar festas sofisticadas. Os clubes sociais são o espaço onde a dimensão do lazer é vivida através de esportes, festas, danças, competições, concursos de beleza para moças etc. O cultivo do corpo é quase uma idolatria (corpolatria), onde o narcisimo atinge graus elevados. É o reflexo do egoísmo reinante e de uma sociedade que prioriza a matéria acima dos valores espirituais e culturais. Os esportes preferidos são: natação, tênis, basquete, surf, squash e as artes marciais, como karatê, que treina para a briga e a autodefesa corporal.
Muito poder e pouca política
O referencial político atual não lhes oferece perspectiva. Os partidos políticos estão desacreditados. Não desconfiam que há outros campos políticos, como o sindicato, os movimentos populares... Diante de tal quadro, esses jovens se caracterizam pela aversão e apatia. Contudo, procuram manter ciosamente o poder político, econômico e cultural que desfrutam através de sua família e de sua classe social. Alguns são reacionários por herança e por formação. Neste contexto, a escola é um instrumento que lhes garante, através do saber, seu status econômico. Há quem diga que a apatia política desses jovens é uma postura intencional, como forma de reação ao modelo de sociedade que está aí, posta pelos adultos. A possibilidade de votar aos 16 anos mudará a perspectiva política dos jovens desta classe?
Muito dinheiro e pouco afeto
Desde o berço, recebem tudo de mão beijada, sem precisarem de algum esforço para conseguir algo. Podem esbanjar à vontade. Contudo, têm uma insatisfação existencial que não sabem definir. Consciente ou inconscientemente, sentem que não são sujeitos nem de sua própria história. Dão-se conta do vazio de seriedade dos encontros que deveriam trazer profundidade no relacionamento, como o namoro, a família, o estudo.
Onde está o seu Deus?
A grande mistura de credos (seitas) com que se deparam esses jovens, em sua maioria nascidos no costado da Igreja Católica, causa-lhes grande insegurança. Muitos têm vergonha de expressar sua fé, mesmo porque ouvem muitos chavões contra a Igreja que não sabem esclarecer ou negar. Apreciam o modelo de Igreja no Brasil ligado à Teologia da Libertação, mas sentem dificuldades de comprometer-se com essa Igreja. Quando conseguem fazer uma experiência religiosa positiva, empolgam-se e sentem-se desafiados pelos valores da fé. As moças mostram-se mais prontas e sensíveis aos problemas sócio-religiosos do que os rapazes. Mas, na hora de assumir e tomar uma bandeira de luta, elas se retraem facilmente. Parece que tal comportamento esteja ligado à diferença de formação dada nas famílias: o rapaz é mais solto e as moças mais vigiadas. No fundo, todo esse modo de ser dos jovens de classe média-alta reflete um modelo de sociedade esvaziada de valores éticos, religiosos e culturais. Entretanto, seria errôneo e até injusto pensar que esses jovens não têm sensibilidade. Pelo contrário, toca-os de perto a amizade, a ecologia, os direitos humanos, a solidariedade e os testemunhos de coerência.
Tentar caminhos está em nossas mãos
- Criar espaços para grupos de vivência que ajudem os jovens a descobrir o sentido da vida, para não passarem seu tempo como seres inúteis e mergulhados numa sociedade que os manipula. Motivá-los a perceberem que são capazes de mudar esta sociedade.
- Encaminhar alternativas de ação concreta (direitos humanos, ecologia, movimentos estudantis, populares, sindical), para que possam ter escolhas pessoais e grupais e se sintam sujeitos da história.
- Criar clima e espaço para que as dinâmicas já em andamento, como Movimento de Jovens e Pastoral da Juventude, possam ser melhor experimentadas e avaliadas e assim descobrir qual das duas consegue a encarnação da Igreja na cidade. Estes e outros caminhos viáveis ajudarão a trabalhar mais concretamente o dado da fé e o sentido cristão da comunidade. Podem ser uma contribuição das jovens gerações para re-criar a Igreja.
- Encaminhar alternativas de ação concreta (direitos humanos, ecologia, movimentos estudantis, populares, sindical), para que possam ter escolhas pessoais e grupais e se sintam sujeitos da história.
- Criar clima e espaço para que as dinâmicas já em andamento, como Movimento de Jovens e Pastoral da Juventude, possam ser melhor experimentadas e avaliadas e assim descobrir qual das duas consegue a encarnação da Igreja na cidade. Estes e outros caminhos viáveis ajudarão a trabalhar mais concretamente o dado da fé e o sentido cristão da comunidade. Podem ser uma contribuição das jovens gerações para re-criar a Igreja.
QUESTÕES PARA DEBATE
1 - O que mais lhe chamou a atenção nesse escrito? Por quê?
2 - Você acha que o “relato dos jovens urbanos” deve ser retocado? Em quê?
3 - Uma pista muito simples para começar grupos ecológicos:
- O que se faz com o lixo das nossas cidades? As nascentes dos rios estão sendo preservadas ou poluídas? (verificar) como são respeitadas ou recuperadas as áreas verdes?
- Por que será que o assassinato de Chico Mendes provocou mais reações fora do que dentro do Brasil?
- O que se faz com o lixo das nossas cidades? As nascentes dos rios estão sendo preservadas ou poluídas? (verificar) como são respeitadas ou recuperadas as áreas verdes?
- Por que será que o assassinato de Chico Mendes provocou mais reações fora do que dentro do Brasil?
Maria Augusta Ghisleni.
Artigo publicado no mês de Maio de 1989, página 18.
Artigo publicado no mês de Maio de 1989, página 18.
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